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“Renega Cristo com o coração quem não tem fé ou comete pecado grave. Renega Cristo com a língua quem destrói a verdade através da mentira ou denigre o próximo. Renega Cristo com a mão quem age perversamente com as ações. Devemos, ao contrário, testemunhar Cristo, como São Pedro, dizendo três vezes: ‘Te amo, Te amo, Te amo!’. Amo com o coração, por meio da fé e da devoção. Amo com a língua, afirmando a verdade e edificando o próximo. Amo com a mão por meio de um agir virtuoso”. (Sermões, v.. III, p. 278).
Desde criança, Santo Antônio de Lisboa e Pádua (1195-1231) teve como exemplo e educação para a oração os pais, Martinho de Bulhões e dona Maria Taveira de Bulhões. Sobretudo a mãe. E o povo aprecia bastante ouvir fatos pitorescos de sua vida, talvez nem tanto – como era costume na época medieval – pela objetividade dos fatos, mas pelo ensinamento que daí se pode tirar para as próprias vidas.
Assim é que, segundo se conta-se, o pequeno Fernando ia sempre ao sítio paterno, perto da cidade. Um dia, o pai teve de se ausentar por um breve momento e pediu que o filho cuidasse do trigal, impedindo que os pássaros devorassem as espigas que já estavam madurando. E lá foi o menino, correndo para cá e para lá, fazendo o que podia. Certo momento, passou diante da capelinha localizada à beira da estrada e sentiu uma grande vontade de entrar. Mas, daí, ficou pensando na incumbência que o pai lhe dera: espantar os pássaros do trigal. Teve uma ideia: convidá-los para também rezarem ao modo deles. Chamou-os em voz alta: “Passarinhos! Venham aqui comigo”. E toda a passarada voou a seu redor.
Feliz da vida, Fernando conduziu-os a um enorme galpão onde se devia guardar o trigo maduro. E lá os encerrou. Então foi à capela para rezar! Não demorou muito e o pai chegou. Assustado por não ter visto o filho espantando os pássaros, ao passar pela capela, encontrou-o lá dentro, rezando piedosamente em sua inocência infantil. Logo lhe repreendeu: “Filho! Eu não lhe disse que tinha de cuidar do trigal espantando os pássaros?” E Fernando respondeu: “Pai! Eu combinei com os passarinhos que não fizessem nenhum dano à plantação e rezassem também, ao modo deles, lá no galpão”. Martinho não acreditou. Dirigiu-se imediatamente ao galpão e, ao abrir o portão, o bando de pássaros saiu em revoada, chilreando alegres e felizes por aqueles momentos que passaram rezando (a seu jeito) O pai pegou o filho pelas mãos e, sem entender muita coisa, disse: “Filho! Vamos para casa!”
Na simplicidade e na inocência desse relato, encontramos frei Antônio bem mais tarde, já adulto, professor de Teologia dos frades e grande pregador do povo de Deus. Em seus Sermões, comentando o texto do Introito do VI Domingo de Páscoa, ele escreveu:
“Sobre a oração, fala-se no introito da missa de hoje: ‘Escuta, Senhor, a minha voz com que gritei a Ti. De Ti disse meu coração: ‘Procurei teu rosto, Senhor! Teu rosto, Senhor, sempre hei de procurar! Não me escondas teu rosto!’”(Sl 27[26],8-10).
Vale lembrar que há três espécies de oração: a oração mental, a oração verbal e a oração manual (das obras).
Sobre a primeira, diz o Livro do Eclesiástico: “A oração do humilde penetra os céus” (Ecl 35,21). Sobre a segunda, ressalta o salmo: “Minha oração entre em tua presença”(Sl 88[87],3). Da terceira, fala o Apóstolo: “Orai continuamente!” (1Ts 5,17). Ora continuamente aquele que não deixa nunca de fazer o bem!
O rosto de Deus recompõe-se e conserva-se até o fim por meio da caridade, por meio do amor! São Pedro, sobre essa virtude, disse:
“Sobretudo, cultivai o amor mútuo com todo o ardor entre Vós” (1Pd 4,8). Como Deus é o princípio de todas as coisas, assim também a caridade, virtude fundamental, deve ser conquistada antes de todas as outras virtudes. E, se for mútua e constante, cobrirá todo o cúmulo dos pecados.
A caridade deve ser recíproca, isto é, uns para com os outros, e feita em comum. Deve ser contínua, quer dizer, não deve nunca faltar, não só quando tudo vai bem, mas também quando tudo parece ir mal e deve ser incessante e perseverante até o fim. Ou também: a caridade é o Paráclito, o Espírito Santo, o Espírito de verdade, que, como o óleo, cobre qualquer líquido, cobre a multidão dos pecados.
Mas, atenção: se o óleo for assoprado, reaparece tudo aquilo que antes estava encoberto. Assim, a graça de Deus, que com a penitência cobre a multidão dos pecados, se for assoprada para fora com a recaída no pecado grave, aquilo que já havia sido perdoado retorna com força, porque quem peca contra o primeiro dos mandamentos, isto é, contra o mandamento da caridade, o mandamento do amor, torna-se também culpado de todos os outros (cf. Tg 2,10). O Espírito Santo, que é o amor do Pai e do Filho, digne-se de cobrir com sua caridade, com seu amor, a multidão de nossos pecados.
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