Santo Antônio visto por Lúcio Américo

Acerca das artes do Calendário do Mensageiro de Santo Antônio.

A arte nos faz contemplar com os sentidos algo que escapa às palavras e nos faz vislumbrar um Reino com cores e formas que vão muito além do que realmente percebemos do mundo, da vida e de Deus.

Santo Antônio, um dos santos mais famosos do mundo, sempre teve seu lugar de destaque nas representações artísticas, seus feitos, os milagres que sua pessoa intermediou e o fervor de sua vida encanta até hoje muitas pessoas.

Mais do que simplesmente retratar, as presentes artes são uma tentativa “brincante” de trazer a tona o que poderia ser chamado de teologia antoniana, um vislumbre colorido de como a Vida Nova de Cristo inundou o ser de frei Antônio e nele produziu uma imagem de Deus, de homem e de mundo.

As peças não tem uma ordem exata para serem apresentadas, o que em sí já proporciona diversos itinerários possíveis de como “ler” o conjunto das obras, aqui cabe somente algumas pistas, ou migalhas que foram percebidas em cada uma das artes.

De modo geral elas seguem a mesma linha estética, são artes profundamente simbólicas que bebem de fontes que alimentam a humanidade há milênios, além é claro dos símbolos próprios da fé católica, todas com o “sotaque” próprio que o franciscanismo cunhou no mundo junto com a Igreja. Aqui teremos uma arte banhada de luz, as formas, as texturas são só um indicativo de que a luz divina banha todas as coisas. Um caminho na nobre simplicidade para mostrar a luz por trás de cada ato de Deus no mundo.

Antônio e a Palavra de Deus

Antônio e a palavra de Deus.

Antes de ser a voz que prega, frei Antônio é uma alma que escuta e que se deixa atingir pela divina novidade do Evangelho. Na arte ele e a grande árvore da vida são como um só, inserido na vida de Cristo, o Evangelho gera vida na vida de frei Antônio, a árvore assim cresce e os pássaros (símbolos dos cristãos) se achegam a ela e fazem nela seus ninhos. Uma ave em especial vem do alto e ilumina a cena, é o Espírito Santo que inflama a vida e pregação de frei Antônio.

A postura de Antônio é de recolhimento, assim como tudo na vida, é um ciclo, expandir-se, retrair-se, crescer, diminuir, falar e calar. Todas essas são etapas e dimensões de uma mesma realidade, caminham juntas, pois a vida é um dom de Deus, vem d’Ele e volta para Ele.

Os verdes pastos abaixo é sinal de que sua vida e pregação conduziram muitos ao caminho do Senhor. Abaixo de tudo as águas, sinal de condição batismal que todos os cristãos são imersos. O dom de Santo Antônio é um dom de todos os cristãos.

Antônio, o menino e a virgem

Antônio, o menino e a Virgem.

Na arte a Virgem revela o Menino Deus, este que entrega a frei Antônio um lírio, sinal de pureza. O menino de braços abertos, visão de um acolhimento sem medidas do Senhor para com a humanidade. A singeleza de uma criança acolhida como um dom e nos acolhendo como um dom. São sinais do que se espera de cidadãos de uma cidade mais justa e santa, por isso ao fundo a silhueta da Jerusalém Celeste.

A Virgem Maria, em contemplação, vislumbra em seu Amado Filho, todos os que se dedicarão a espalhar o Reino de Deus. Maria com seu sim trouxe a missão de Deus feita carne, feita vida, feita caminho a ser percorrido. Frei Antônio é aquele que se volta completamente a esse dom, sem reserva e com fé inabalável.

Antônio, o menino e a virgem

Antônio e os peixes.

Na arte, não se busca o retrato de uma cena fantástica onde os peixes ouvem frei Antônio em contrapartida dos descrentes. Aqui se buscou um mantado divino, um chamado, Antônio é um dos pescadores de homens, os peixes na tradição iconográfica mais antiga é símbolo dos que mergulharam na vida de Cristo, sinal dos que nasceram para uma Vida Nova. A vida e o testemunho desses são como uma grande rede que busca, sempre em águas mais profundas, os que se inquietam e buscam sentido na vida. As águas, frei Antônio e a rede feita de peixes são uma imagem da Igreja que se lança na busca pelas almas que anseiam por Deus.

Antônio e o tesouro

Antônio e o tesouro.

Um coração ardente… que seja essa á única imagem que fale nessa arte. A Paixão do Senhor é a fagulha da chama divina que inflama o coração dos cristãos, é o tesouro do coração. A vida de Antônio buscou sempre estar em conformidade com o Espírito do Crucificado, com o modo de ser daquele que a tudo entrega por amor… essa força é o grande tesouro do coração de frei Antônio.

Antônio e o Pão.

Antônio e o Pão.

Frei Antônio, no partir de cada pedaço de pão, no gesto de entrega de cada migalha de alimento aos pobres, vislumbra o Senhor, sua face, seu amor para conosco. A arte assim está muito próxima do caminho feito pelos discípulos de Emaús. Aquele que nos aquece o coração com sua Palavra se revela no partir do pão.

Antônio e o Menino.

Antônio e o Menino.

O modo de ser servo é abaixar-se… assim como o Senhor ao se encarnar, ao vir em socorro de nossa pequenez, ao lavar os pés dos discípulos. De tudo o que se fez de frei Antônio, construções, templos, obras, tudo tem como pedra fundamental o abaixar-se, a reverência do serviço aos pequenos. A arte revela assim o doce cuidado do Divino Menino em amparar quem assim consegue pautar sua vida. A Palavra de fez carne e habita no meio de nós.

Antônio

Antônio.

Frei Antônio é um homem evangélico, cercado por todos os sinais que a vida cristã oferece a todos. Sua divina Palavra, seu divino Pão, seu divino Sangue fruto das uvas e alegria para sua Igreja. Antônio assim é um canal por onde a Graça de Deus alcança o mundo. Seu olhar, sua postura de benção é uma continuação de quem é um só com o seu Senhor.

Antônio e Francisco.

Antônio e Francisco.

No ano que se comemora o oitavo centenário dos estigmas de São Francisco, a arte mostra a reverência de frei Antônio para com aquele que foi um grande facho de luz na vida cristã, aquele que se fez irmão menor e seguiu seu Senhor até a cruz. Marcas e chagas divinas para serem sinal no mundo de que a vida cristã é um desafio possível de ser vivido, na simplicidade e nobreza de alma. Assim Antônio e Francisco são dois grandes frutos do Reino que cresceram no nosso chão, duas grandes árvores que, buscando na humildade e no serviço, cresceram como árvores jocosas e alegres na direção do céu.

Lúcio Américo – artista sacro
Jundiaí 23 de junho de 2023