Igreja como luz para os povos

Escrito por omensageiro_master

[vc_row][vc_column][vc_single_image image=”30477″ alignment=”center”][vc_column_text]Em uma entrevista sobre o Concílio Vaticano II, eu tive de responder a uma questão muito intrigante, que tantas vezes nos questionam: como a Igreja Católic, sobrevive ha tantos séculos, apesar das mudanças de época, de seus percalços como a Inquisição, a escravidão e centenas de perseguições?
A resposta não é simples, mas a mais simples nos é dada pelos grandes mestres: a Igreja é guiada pelo Espírito Santo. Essa resposta deveria bastar, mas exige desdobramentos mais profundos. Como o Espírito Santo conduz a Igreja levando-a a adentrar os mais diversos povos, lugares e tempos e fecundar suas histórias? Recordamos, então, um grande princípio eclesial, que, desde os primeiros tempos, surge na memória dos nossos pastores: Ecclesia semper reformanda. De fato, o Concílio Vaticano II vem nos atualizar essa princípio fundamental, pois a Igreja está sempre em restauração, buscando nas fontes dos Evangelhos, nas tradições seculares e na realidade contemporânea suas forças inspiradoras de renovação. O Concílio Vaticano II, do qual celebramos o Jubileu de Ouro (1962-1965), é uma prova verdadeira de que a Igreja não quer se fixar em um tempo e em um espaço histórico, mas trafegar nos caminhos da humanidade e ser-lhe uma luz e um fermento, para que o Evangelho volte sempre a inspirar as ações humanas.
Nada é tão perfeito assim, pois nem sempre fomos capazes, como Igreja, de atualizar nossa ação pastoral, litúrgica, ética e espiritual. Mas a Igreja sabe pedir perdão, sabe resistir, e tem aprendido a integrar-se nos povos e nas culturas, para fecundar em sua alma os ensinamentos cristãos, que herdou há vinte séculos. O Concílio Vaticano II é a prova mais evidente da busca constante de renovação eclesial.

Entre alegria e esperança, ser luz dos povos

No discurso de Abertura do Concílio (11 de outubro 1962), o papa João XXIII (1881-1963) manifestou sua grande alegria, pois considerava que esse grande acontecimento, como os demais vinte Concílios Ecumênicos ao longo da história, também seria testemunho da vitalidade da Igreja e sua força luminosa entre os povos. É necessário apresentar aos homens de todos os tempos a mensagem viva dos Evangelhos. Os concílios são “vozes a aclamarem em perenidade de fervor o triunfo da instituição divina e humana, a Igreja de Cristo, que recebe dele o nome, a graça e o significado” (Discurso Inaugural, n. 3).
João XXIII sempre insistiu que a Igreja tem a missão de apresentar ao mundo o Cristo que brilha no centro da vida e da história. Por tanto, os povos que estiverem com Jesus Cristo e com sua Igreja vivem na luz, na bondade, da ordem e da paz. A Igreja é a força histórica para superar as confusões do ser humano, sejam as asperezas das relações ou mesmo os perigos das guerras. Por certo, está presente no espírito dos povos, as tragédias causadas pelas grandes guerras do século XX e os sistemas ditatoriais que provocaram assassinatos em massa em vários pontos do planeta.
O pontífice considerava que, em seu cotidiano (e particularmente na realização do Concílio), revelava-se a união de Jesus Cristo e sua Igreja, irradiando a verdade universal e pereniza os seus bens verdadeiros e eternos. No encontro dos pastores do mundo inteiro, sentiu-se que a Providência despertou nova ordem de relações humanas, renovando a concepção de Igreja para que esta fecunde a história humana. Sem os poderes temporais de outros tempos, a instituição percebia-se mais livre para profetizar e anunciar a mensagem cristã aos povos. Ficaram para trás os ressentimentos pela perda dos territórios pontifícios, e a Igreja sentiu-se mais leve para cumprir sua missão.

 

[/vc_column_text][vc_message]

Lumen Gentium: estrutura e teologia
A Constituição Dogmática Lumen Gentium (Luz dos Povos) é dedicada à teologia e epsiritualidade da Igreja, no Vaticano II. Foi um dos documentos mais debatidos na segunda sessão do Concílio. Fala da Igreja como instituição, mas sobretudo como Corpo Místico de Jesus Cristo. Foi aprovado por quase unanimidade (2.151 favoráveis e cinco contrários) em 1964. Anotamos suas seções (com os artigos) e podemos entender seus temas principais:

a) Mistério da Igreja (1-8);
b) O povo de Deus (9-17);
c) A constituição hierárquica da igreja e em especial o episcopado (18-29);
d) Os leigos (30-38);
e) Vocação de todos à santidade na Igreja (39-42);
f) Os religiosos (43-47);
g) A índole escatológica da Igreja peregrina e a sua união com a Igreja celeste (48-51);
h) A Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja (52-69).

Por essa Constituição, supera-se a noção que a Igreja é uma societas perfectas, mas antes é o povo de Deus. Sendo um sinal no mundo, ela é o sacramento de Jesus Cristo no mundo e instrumento de unidade entre Deus e a humanidade. Os fiéis buscam a santidade e servem todos os povos.

[/vc_message][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

Igreja como família de fiéis

Desde os primeiros séculos, os conceitos ligados à Igreja variaram muito. De fato, o reconhecimento dos fiéis nem sempre foi harmônico. Por vezes, a Igreja fixou-se mais em sua concepção canônica, outras vezes, mais moralistas, ou também mais pastorais. Procurando sempre ser fiel a seu Senhor, porém assumindo-se como santa e pecadora.
Como revelam os atos conciliares e os documentos que deles resultaram, no meio de tantas decisões conciliares, as principais renovações ocorreram no campo da vida litúrgica e da pastoral da Igreja. Tais renovações estavam alicerçadas na nova concepção de Igreja, que professa igual dignidade para todos os fiéis e um olhar mais acolhedor para o mundo em transformação. Os vários propósitos da reforma litúrgica expressam tal preocupação conciliar. Todos os temas tiveram considerável importância, como a relação entre as Sagradas Escrituras e a Tradição, a liberdade religiosa, a interação com o mundo moderno, o ecumenismo e, particularmente, o papel dos leigos na vida ativa da Igreja. Sem proclamar dogmas, pois não havia nenhum entrave doutrinal, os padres conciliares dedicam seus esforços para renovar suas estruturas e atualizar a ação pastoral. Despertam-se novas estruturas paroquiais e novos métodos de evangelização, respeitando-se mais as realidades históricas. O mundo está em profunda transformação, e os bispos, os padres e os leigos devem dialogar com o novo universo, tanto na Europa, como em todos os continentes. Entre nós, na América Latina e no Brasil, conheceremos mudanças impressionantes na atuação da Igreja.

Ser Igreja, ser luz dos povos

Podemos falar em uma nova eclesiologia. De fato, o tema “Igreja” mereceu grande atenção dos padres conciliares, tanto na sua dimensão dogmática, quanto na sua dimensão pastoral. As verdades eclesiológicas, registradas na Constituição Dogmática Lumen Gentium, renovam as estruturas e as concepções de Igreja que perpassam os séculos. Deixando para trás a afirmação de que somente a Igreja Católica é verdadeiramente a Igreja de Jesus Cristo, reconhece a importância das demais comunidades cristãs. Aqui se afirma que “a única Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, é na Igreja Católica” (cf. LG, n. 8). Tal afirmação tem sido discutida exaustivamente e os estudiosos concordam em compreender que o Concílio reconhece que o lugar privilegiado da Igreja cristã é a Igreja Católica, fundada por Pedro, sob o mandato de Jesus Cristo. É o próprio Cristo que diz: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). Desde os primeiros anos, os discípulos reconhecem a autoridade suprema de Pedro. Ele é chamado para Jerusalém para resolver o impasse da circuncisão dos novos convertidos que não advinham do judaísmo (cf. At 15,5). Uma vez que foi martirizado e morreu em Roma, a cidade tornou-se o centro da Igreja Cristã.
Ainda para os padres conciliares, a “Igreja é sacramento de Cristo e instrumento de íntima união do homem com Deus, e da unidade de todo o gênero humano” (cf. LG, n. 1). A missão da Igreja é unir os povos a seu Senhor. Desde então, reconhecemo-la como um sacrametno de Jesus Cristo. De forma similar, o Cristo é sacramento do Pai. Como o Filho revela o Pai, a Igreja revela o Cristo para o mundo. Nesse sentido, sacramento significa um sinal revelador. A instituição hospeda o Cristo em seu coração e o revela ao mundo, pelos sacramentos e pela fé. A Igreja é o canal da graça divina, para santificar seus fiéis.
A primazia católica não deve ser motivação para descvalorizar as demais comunidades eclesiais, segundo a nova concepção de Igreja, mas deve-se reconhecer sinais da graça divina em todos os grupos de fiéis que procuram buscar e servir e adorar o Senhor. São necessárias as palavras da Constituição para compreender esta verdade: para cumprir esta missão da Igreja, é necessário dar aos católicos maior consciência de sua identidade, para que possam acolher outras igrejas, sem constrangimentos. Deve-se valorizar os bens e dos profanos do mundo moderno.

Família de fiéis: clero e leigos

Muitas vezes, nós nos confundimos quando falamos de Igreja. Todas as vezes em que nos referimos à Igreja, pensamos em hierarquia. Sobretudo quando se trata de criticar seus erros. A confusão tem motivos históricos, pois muitas vezes entendemos a Igreja como o templo, o que é o erro mais elementar. Uma coisa é o templo, onde praticamos os rituais de nossa fé; bem diferente é a comunidade de fiéis que se reúne no templo. Esta é a verdadeira Igreja: fiéis reunidos em nome do Senhor. Mas ainda, confundimos Igreja com a hierarquia, sobretudo bispos ou padres. Tal erro deve-se à parca importância dada aos leigos nos últimos séculos. Embora participasse devotamente, os leigos eram sempre considerados membros passivos do “corpo eclesial”, com pouca participação nos ritos e nas decisões fundamentais da Igreja.
Por essa razão, o documento eclesial do Concílio voltou-se fortemente para o “sacerdócio universal dos fiéis, quer dizer de todo povo de Deus”, que tem missão ativa e integrativa na propagação do Reino de Deus. Resgatou-se o sentido paulino da missão dos fiéis, que exercem, pelo batismo, sua função profética, sacerdotal e real, com o dever de ensinar, celebrar e conduzir os caminhos de toda comunidade. Desta feita, a colegialidade episcopal determina que a missão de serviço da Igreja deve estar voltada para toda a humanidade.
O Concílio Vaticano II, com a Lumen Gentium, propôs uma grande renovação eclesial. A Igreja deve de ser vista não como instituição hierárquica, mas como comunidade de fiéis, espalhados no mundo inteiro, para instaurar o Reino de Deus. A Constituição Conciliar leva-nos a acolher maior participação e apostolado dos próprios leigos, sem distinção de raça, gênero ou condição social.

[/vc_column_text][vc_message]

Notas e títulos da Igreja
Desde o princípio, a Igreja definiu-se como católica, que quer dizer ‘universal’. Poucos sabem, mas tal conceito quer dizer que a Igreja não pertence a um povo, etnia ou nação. Ela é aberta a todos os povos, superando a noção de igreja nacional ou racial. Possui notas específicas:

1) Igreja “una”: porque é a única instituição fundada sob o mandato de Jesus Cristo, conforme o Concílio de Niceia (325). Ela reúne todos os fiéis na comunhão com Cristo.
2) Igreja “santa”: mesmo que seus membros sejam pecadores, sua santidade vem da ligação com Deus e pela presença do Espírito Santo.
3) Igreja “católica”: espalhada por toda face da terra, integra em si todos os povos de todos os tempos. Sua missão é para todas as nações.
4) Igreja “apostólica”: sua origem está na missão dos apóstolos, encabeçada por Pedro, escolhido por Jesus, como sua pedra fundamental.

Tida, em outros tempos, como sociedade perfeita, hoje a comunidade cristã se identifica como o “corpo místico de Cristo” e povo de Deus, pelas estradas do mundo, a caminho da salvação.Ela é a “esposa de Cristo” e o “templo do Espírito Santo”.

[/vc_message][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

Metáforas da Igreja

Como a Igreja é uma comunidade espiritual e muito complexa em seus conceitos, podemos compreender seu significado por meio de metáforas ou figuras de linguagem que possam ilustrar sua identidade. Partindo do Antigo Testamento, encontramos a Igreja representada como esposa de Deus. Deus garante sua fidelidade e exige a fidelidade de sua “esposa”. Nessa compreensão, a Igreja é considerada a esposa de Jesus Cristo. Algumas imagens são muito significativas. Por exemplo, a Igreja é como o redil das ovelhas. A porta do redil e o pastor é o próprio Cristo (cf. Jo 10,1-10). Como o pastor é dedicado a seu rebanho, este deve ser fiel a sua voz. O pastor dá a vida por suas ovelhas,quer dizer, o Cristo dá a vida pelos fiéis (cf. Jo 10,11-15). Essa é uma figura da pecuária judaica.
Uma outra metáfora muito bonita é a agrícola. Jesus Cristo apresenta-se como a oliveira verdadeira e os fiéis são seus ramos. Os ramos não podem se separar do tronco, pois estão fadados a secar e morrer. Nossa Igreja é o campo de Deus (cf. 1Co 3,9). Sem o Cristo, a Igreja não pode fazer nada, assim como o ramo sem a árvore não produz nenhum fruto (cf. Jo 15,1-5).
Mais urbana é a metáfora da construção do edifício. A Igreja é o templo de Deus; nela Jesus é a pedra angular (cf. Mt 21,42) e nós somos pedras vivas desta edificação. Todo cristão habita essa morada divina que é, ao mesmo tempo o tabernáculo de Deus (cf. Ap 21,3). Muito sublime ainda é a figura da Jerusalém celeste, que congrega todos os povos em uma comunidade universal. A Igreja é a “Jerusalém do alto”; ela é nossa mãe (cf. Gal 4,26). Enfim, a Igreja é o corpo místico de Cristo. Para esta metáfora, a figura do corpo, com sua harmonia, é ideal para mostrar a importância dos membros da Igreja e a integração de todos em um verdadeiro corpo espiritual.

Comunidade humana e divina

A Igreja não pertence aos homens, mas sim a Jesus Cristo. É Ele quem sustenta e fecunda a Igreja na história humana. Portanto, a Igreja, mesmo que santa e pecadora, é uma comunidade de fé, de esperança, de caridade e de serviço aos povos. Organizada hierarquicamente, a comunidade eclesial é o corpo místico de Jesus. Reconhecemos seu agrupamento visível e acreditamos em sua comunidade espiritual. Suas dimensões (a humana e a divina) garantem a inserção na história dos povos e, aos mesmo tempo, a iluminação celestial. Não são duas Igrejas diferentes, mas uma única e verdadeira comunidade de crentes que se unifica para ser fermento no mundo e elevar a humanidade para o coração de Deus. Santa e pecadora, perseguida e enaltecida, os seguidores de Jesus Cristo, ao pés do Papa, pastor universal, se une em preces e em missão para que o Evangelho seja vivido por seus membros e conquiste para Deus todos os povos em todos os cantos da Terra.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

Pe. Antônio S. Bogaz, sacerdote orionita

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][/vc_column][/vc_row]

Autor

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *