A imagem da Mãe, de terracota e com pouco mais de 30 centímetros, é ladeada pelos apóstolos em uma capela ainda pouco conhecida pelos fiéis.
Os passos dos devotos vão se alternando entre a pressa e a contemplação sob as quatro arcadas que circundam a Basílica. De arco em arco, os peregrinos são conduzidos entre luzes e sombras, como a passagem do tempo. Na arcada norte, ao fundo, vê-se se o cintilar das velas que convidam ao silêncio; na Capela das Velas, estão os pedidos dos que clamam pela intercessão da Mãe de Jesus.
Ainda em peregrinação pela arquitetura do Santuário Nacional de Aparecida, em São Paulo, o convite à contemplação permanece. É preciso olhar para o chão e aos céus, observando as cores e as texturas daquilo que foi propositalmente criado para a condução do encontro com o próprio Deus, por meio de Nossa Senhora.
Na arcada oeste, o piso tem forma de água conduzindo o caminhante à grande pesca. Na leste, a forma de água indica-nos o Rio Paraíba do Sul. Permanecendo nessas “águas”, chega-se até o nicho com a imagem de Nossa Senhora, que “apareceu” a três pescadores (Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso), em 1771, no citado rio, próximo ao Porto de Itaguaçu.
A história é bastante popular, assim como a Casa da Mãe dos brasileiros, que, embora seja muito conhecida e parte de fotografias e de memórias de gerações e gerações, reserva locais escondidos dos olhos menos atentos.
A imagem de terracota, barro cozido, tem pouco mais de 30 centímetros. Está “guardada” em um grande retábulo feito em porcelana ouro e branco, formando um grande sol. No centro, um nicho em metal ouro com 2 x 2 metros, na forma de água e peixes, indicando a grande pesca.
“O grande ‘totem de ouro’ lembra-nos a presença do Divino, do Sagrado, manifestando-se nesse lugar na figura do sopro, e os três arcanjos: Gabriel, Miguel e Rafael”, registrou o artista sacro responsável pela concepção da Basílica de Aparecida, Claudio Pastro (1948-2016).
Sob esse totem, na rampa de acesso à imagem, é possível sentir a fé do povo que recorre à santa. Pessoas provenientes de todos os cantos manifestam ali sua devoção. Mãos disputam o acrílico que recobrem o totem e o ar em louvor à Mãe de Jesus. O tempo da oração é cronometrado, já que o fluxo de peregrinos por ali é sempre intenso.
“Um sinal grandioso apareceu no céu:
uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas; estava grávida […]. Uma voz forte no céu, proclamando: ‘Agora realizou-se a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo […]’”
(Ap 12,1-2.10).
Enquanto isso, do lado oposto da visitação da imagem, em uma capela silenciosa, o nicho que guarda a imagem de Nossa Senhora é ladeado pelos doze apóstolos pintados a têmpera sobre reboco.
João, Tiago Maior, Pedro, Paulo, Tomé, Mateus, Tiago Menor, Barnabé, Simão Zelotes, Judas Tadeu, Felipe e André, sob os traços do artista, guardam a imagem de Nossa Senhora, que está voltada ao público e de costas à capela. Não por acaso, o local é denominado de Capela dos Santos Apóstolos.
O acesso até ela dá-se por elevador ou pelas escadas. É preciso autorização e condução para entrar na capela. O piso em granito, que ocupa todo o espaço, tem o desenho em forma de cestaria indígena e de água em movimento, também referência ao encontro da imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba do Sul.
“Todo o piso, interno e externo, em granito, tem o movimento da água, o que nos indica a presença dom Espírito Santo (o sopro do Ressuscitado) nesse lugar, assim como nos mostra que somos um povo de batizados (mergulhados) no próprio Cristo, aquele que nos dá a vida”, lembrou o artista Pastro, no Natal de 2012.
O nicho da Mãe de Deus, ladeado pelos apóstolos, está no centro da capela. Em prata, ele apresenta plantas aquáticas, remetendo ao local do aparecimento. “A placa central apresenta o pássaro (o Espírito) que choca o ovo da vida, o novo homem Jesus Cristo”, descreveu o artista em seus registros.
O altar e o ambão da capela são feitos de granito verde-ubatuba, consagrados quando da visita de São João Paulo II (1920-2005) a Aparecida, em 1980. A Capela dos Apóstolos foi concluída no ano de 2007. “Mas ela foi oficialmente inaugurada em 2013, por ocasião da visita do papa Francisco (1936-) ao Santuário Nacional de Aparecida, que, muito devoto, teve a oportunidade de inaugurá-la”, disse o missionário redentorista Irmão Orlando Augusto Silva Cassiano, C.Ss.R.
Naquela ocasião, a imagem original de Nossa Senhora Aparecida foi virada para o lado interno da capela. “É muito especial poder estar nesta capela, tão pertinho da imagem da Mãe. Um ambiente de paz, de encontro com o próprio Deus por meio de Nossa Senhora”, disse a devota Maria Aparecida Santos de Souza, de sessenta anos, pela primeira vez na Capela dos Santos Apóstolos, por ocasião do batizado de seu neto João, de dez meses.
A beleza do local e a fé quase tangível são elementos que convidam à intimidade com Nossa Senhora, com a Mãe. “A arte é como um sacramento, sinal eficaz que favorece a Graça, matéria e forma de acesso ao mistério. A beleza nos aproxima da beleza de Jesus Cristo. E esse encontro é decisivo para a fé, pois, tocados pela beleza de Cristo, sentimo-nos atraídos a segui-Lo, fazemo-nos discípulos missionários”, como escreveram no livro Aparecida (Editora Santuário, 2013) dom Raymundo Damasceno Assis (1936-), cardeal-arcebispo de Aparecida (na ocasião do lançamento da obra), e dom Darci José Nicioli (1959-), CSsR, então bispo auxiliar de Aparecida.
Ao alcance das mãos, os devotos podem tocar no vidro do nicho de Nossa Senhora, com pedidos e agradecimentos, em uma espécie de ritual que se repete de devoto em devoto, de geração em geração.
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