6 de outubro
27º Domingo do Tempo Comum
Mc 10,2-26
O que Deus uniu, o homem não separe!
“Naquele tempo, alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher” (Mc 10,2). Os fariseus fazem uma pergunta a Jesus somente para colocá-Lo à prova. Não demonstram interesse pela verdade, pelo diálogo, pelo aprofundamento de uma questão complicada. Muitas vezes, também nós levantamos questões somente para provocar o outro, ou desejando respostas que apenas confirmem nossa opinião. É preciso abertura do coração para aprender de Jesus.
Diante da pergunta dos fariseus, Jesus responde: “O que Moisés vos ordenou?” (Mc 10,3). Os fariseus dizem: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la” (Mc 10,4). De fato, em Deuteronômio, lê-se: “Se um homem, tendo escolhido uma mulher, casar-se com ela e vir aborrecer-se dela por descobrir nela qualquer inconveniente, escreverá uma carta de divórcio, lhe entregará e a despedirá de sua casa” (Dt 24,1). Percebemos que esse trecho manifesta uma exclusividade do homem sobre a mulher, fruto da mentalidade da época; pois é somente o homem que pode escrever uma carta de divórcio, e não a mulher, que fica a mercê do homem, que, às vezes, por qualquer motivo, até mesmo banal, pode despedir a mulher.
Jesus não vai atuar no sentido de garantir o mesmo direito à mulher, mas, antes, vai questionar sobre o sentido mais profundo do matrimônio. Ele diz aos fariseus: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” (Mc 10,5-9). Com essa declaração, Jesus combate o poder do homem sobre a mulher tal como estava estabelecido, já que o que Deus une o ser humano não pode separar!
Ao mesmo tempo, Jesus indica o sentido profundo do matrimônio: serem uma só carne! E isso significa a partilha de vida, a união, o ato de construir juntos um caminho que constitui a família, em que um não tem poder sobre o outro, mas ambos se tornam um! É verdade que há dificuldades, diferenças, falhas e pecados de ambos. Essa união não é uma coisa pronta e definitiva, mas algo a se construir, no perdão na misericórdia, no amor. O matrimônio torna-se, assim, a possibilidade do sinal mais pleno do amor que vai além do sentimentalismo: a entrega um ao outro, a partilha de vida, a superação de diferenças, de pecados, de erros; por isso, é ‘sacramento’, sinal do amor com o qual o próprio Deus ama: amor de entrega, de intimidade, de perdão, de misericórdia, de paciência, entre outros exemplos.
A resposta de Jesus torna-se, portanto, um questionamento com relação ao sentido mais profundo do matrimônio: não somente uma instituição para que o homem (ou a mulher) busque seus interesses individualistas, mas principalmente um projeto de vida, de amor, de comunhão e de partilha de vida que gera vida.
13 de outubro
28º Domingo do Tempo Comum
Mc 10,17-30
Vende tudo o que tens e segue-me!
“Naquele tempo, quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: ‘Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?’ Jesus disse: ‘Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém’” (Mc 10,17-18).
O Evangelho apresenta alguém que vem até Jesus e ajoelha-se diante d’Ele. Ajoelhar-se pode significar um ato de respeito, e também de adoração, ainda mais porque aquele homem reconhece Jesus como ‘bom Mestre’ e lhe pergunta sobre a ‘vida eterna’. Jesus então pergunta: “Por que me chamas de bom? Só Deus é bom e mais ninguém”. Essa passagem sempre gerou certa dificuldade, pois ao questionar: ‘por que me chamas de bom?’ e dizer: ‘só Deus é bom’, dá-se a impressão de que Jesus está afirmando não ser Ele mesmo divino.
Mas, na verdade, com esse questionamento, Jesus não está querendo dizer que Ele não é bom e que, portanto, não é Deus; antes, o contrário; com Seu questionamento, faz aquele homem se questionar sobre o quanto de fato reconhece em Sua bondade a ação de Deus.
Continua Jesus: “Tu conheces os mandamentos: não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não prejudicarás ninguém, honra teu pai e tua mãe” (Mc 10,19). O caminho para a vida eterna passa por fazer o bem, segundo os mandamentos. E o homem então diz: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude” (Mc 10,20). Jesus olhou para ele com amor e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (Mc 10,21). Não bastava ao homem seguir os mandamentos que havia sido entregue por Deus a Moisés? Mas Jesus, com autoridade divina, ensina que não basta seguir os mandamentos para ter a vida eterna, pois esta é ‘viver em comunhão com Deus’, e a comunhão com Deus não se faz somente por seguir preceitos.
Aquele homem respondeu que já vivia os mandamentos, mas ainda não havia descoberto o caminho para a vida eterna, justamente porque somente seguir preceitos não nos coloca em comunhão com Deus, que é bondade e amor. O sentido da vida não está em seguir preceitos. Os mandamentos fazem parte do caminho para a vida eterna, mas não bastam. Jesus diz para aquele homem ‘vender tudo e dar aos pobres’. O caminho para a vida eterna é trilhado à medida que não direcionamos o fundamento de nossas vidas em nós mesmos, seja pelo fato de cumprirmos bem os preceitos (achando que isso é garantia de salvação e nos faz melhor que os outros), seja colocando a segurança de nossas vidas em bens materiais. O fundamento da vida eterna é o amor, por isso a caridade. E Jesus completa: “Vem e segue-me”, pois Ele é Aquele que é caminho, verdade e vida, que nos conduz à vida eterna, que é a vida em Deus, através de Seus ensinamentos e de Sua presença.
“Somente Deus é bom”, disse Jesus, que é a bondade de Deus manifestada a nós através da encarnação. Se, de fato, afirmamos, como aquele homem, que Ele é o ‘bom Mestre’, sigamos Seus ensinamentos, estejamos em comunhão com Ele para viver a vida eterna.
20 de outubro
29º Domingo do Tempo Comum
Mc 10,35-45
O Filho do Homem veio para dar a sua vida como resgate para muitos.
“Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: ‘Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir […]. Deixa-nos sentar um a tua direita e outro a tua esquerda, quando estiveres na tua gloria!” (Mc 10,35-37). O Evangelho nos apresenta este pedido de Tiago e João à Jesus, como expressão de um pedido equivocado! De fato, Jesus vai dizer: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” (Mc 10,38).
O pedido realizado pelos dois irmãos não tem sentido. Ambos não compreenderam ainda a missão de Jesus, que os questiona: ‘Podeis beber o cálice que vou beber?’ Aqui, Ele se refere à Sua entrega de amor, cujo sinal mais pleno é a cruz. ‘Beber o cálice’ é uma referência à Sua morte por amor. Jesus chegou a pedir ao Pai: “[…] se é possível, afasta de mim este cálice’ (Mt 26,39), tamanho Seu sofrimento, por causa de sentimentos como abandono, incompreensão, traição… Jesus bebe esse cálice amargo amando até o fim, doando a própria vida. A pergunta de Jesus aos dois irmãos, portanto, tem o seguinte sentido: ‘Vocês são capazes de amar como eu amo?’ O seguimento a Jesus não é disputa por lugares de honra, mas sim a capacidade de amar até o fim, em todas as circunstâncias.
Os irmãos respondem a Jesus que também podem beber do mesmo cálice e serem batizados com o mesmo batismo d’Ele. Parece que não sabem do que estão falando, mas Jesus diz: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado. Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado” (Mc 10,39-40). Jesus confirma que, por fim, eles irão também ‘entregar a vida’, mas que, mesmo assim, não Lhe compete conceder algum lugar à Sua direita ou à Sua esquerda. Ou seja, a vida cristã não depende de falsas promessas de status. Jesus não promete nenhuma posição de destaque. A vida cristã fundamenta-se no amor que dá a vida.
Os outros discípulos “indignaram-se com Tiago e João” (Mc 10,41). Não será por que também eles queriam estar à direita ou à esquerda do Senhor? O próprio Jesus não se indignou com os dois irmãos, mas pacientemente os ensinou. Também Ele não se indigna com os demais discípulos, mas chama a todos para ensinar: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem os grandes a tiranizam. Mas entre vós não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos. Porque o Filho do homem não veio para servir, mas para dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc 10,42-45). Jesus reafirma que, no Reino que estabelece, não deve haver disputa por status e poder, mas antes a disponibilidade para servir. O próprio Jesus vai dar o exemplo: Ele não age oprimindo e impondo, mas acolhendo, perdoando, servindo!
Diante de Seu ensinamento diante do primeiro pedido de Tiago e João, cabe nos questionarmos: o que e com que espírito nós pedimos as coisas a Deus? Nossa oração está, de fato, moldada pelos Evangelhos e pelo ensinamento de Jesus, ou é ainda tão somente expressão de nossos interesses?
27 de outubro
30º Domingo do Tempo Comum
Mc 10,46-52
Mestre, que eu veja!
“Jesus saiu de Jericó, com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: ‘Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim’” (Mc 10,46-47). Jesus estava saindo de Jericó rumo a Jerusalém, o lugar da Paixão, Sua entrega definitiva e expressão máxima de amor até o fim. No caminho, Ele já vinha ensinando Seus discípulos, os quais, no entanto, parecem não compreender Sua missão, conforme percebemos nos Evangelhos dos domingos anteriores.
Então Jesus encontra um cego e mendigo, que lhe exclama: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!” Esse cego, que estava à beira do caminho, representa a situação dos discípulos de Jesus, que, mesmo seguindo-O, estão à beira do caminho, pois não compreendem Sua missão! O Senhor mesmo havia dito: “Não vedes, não entendeis ainda? O vosso coração está insensível? Tende olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis” (Mc 8,17-18).
Mas Bartimeu confessa sobre Jesus: “Filho de Davi”, pedindo-lhe: “Tende piedade de mim!” Talvez ele não compreenda também totalmente o que significa, de fato, Jesus ser o ‘Filho de Davi’, mas pede: “Tende piedade de mim!” Confessa sua fragilidade, sua pequenez diante d’Ele. Muitos repreendiam Bartimeu, pedindo que se calasse, mas ele gritava ainda mais a Jesus! Quantas pessoas, diante do pecado dos irmãos e das falhas da própria comunidade, sentem-se repreendidas a silenciarem e afastarem-se de Jesus? Mas, tal como Bartimeu, deve-se perseverar na fé, na busca a Jesus, que não se faz distante da comunidade dos discípulos de Jesus! É o próprio Senhor quem vai dizer a Seus discípulos para irem chamá-Lo! “Eles o chamaram e disseram: ‘Coragem, levanta-te, Jesus te chama!’” (Mc 10,49). O chamado para o seguimento e o encontro com Jesus acontece a partir da comunidade dos discípulos! Com isso o Evangelho, mostra que aqueles que repreendiam o cego, e com isso tentavam afastá-Lo de Jesus, são os mesmos através dos quais Ele vai ordenar para chamá-lo! Assim, é a comunidade cristã. Por vezes, por não compreendê-lo, falham, acabam equivocando-se! Mas é a essa comunidade de seguidores que Jesus confia a missão de chamar seguidores!
“O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus” (Mc 10,50). O cego, ao jogar o manto, demonstra a atitude de fé: romper com as próprias seguranças para ir até Jesus! O Senhor então pergunta: “‘Que queres?’ ‘Mestre’, respondeu o cego, ‘que eu veja!’ Jesus disse: ‘Vai, a tua fé te curou’” (Mc 10,51-52). Queremos também ‘ver’? “No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho” (Mc 10,52). ‘Ver’ é seguir Jesus pelo caminho confiando em Sua palavra e em Seus ensinamentos! ‘Ver’ é a ‘fé’ que cura, ou seja, que ‘salva’, que dá sentido à vida, pois faz ‘ver’ em Jesus o caminho que conduz à vida, a Deus! Aquele homem pede para ‘ver’, não para poder fazer as ‘próprias vontades’, mas sim seguir Jesus pelo caminho. Jesus cura Bartimeu como sinal para fazer que Seus discípulos pudessem ‘ver’ também e, então, segui-Lo pelo caminho!
Errata
Na edição de setembro, erroneamente, publicou-se a data do 22o Domingo do Tempo Comum como 10 de setembro. Na verdade, o correto é 1º de setembro. (N.E.).
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