A mística do amor gratuito

ago 31, 2024Assinante, Com a Palavra Pe. Zezinho, Revistas, Setembro 20240 Comentários

Já lhe explicaram o que isso significa? O verbo “temer” aparece cerca de mil vezes na Bíblia. Mas Jesus diz no Evangelho segundo São Mateus: “Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais” (Mt 10,30-32).

Aprendi ainda jovem que o amor de Deus é gratuito: Ele ama porque é Deus! Somos frágeis, sujeitos ao pecado e ao egoísmo. Quando amamos alguém, quase sempre queremos retribuição. Só os grandes santos conseguiram amar como Jesus amou: sem cobranças absurdas e sem retribuição obrigatória.

Sempre releio o que São Francisco de Assis (1182-1226), Thomas Merton (1915-1968), Fulton J. Sheen (1895-1979), Romano Guardini (1885-1968), São João Paulo II (1920-2005), o papa Bento XVI (1927-2022) e o papa Francisco (1936-) escreveram. Até nosso amor de retribuição deve ser gratuito!

Não podemos amar a Deus por medo de não ganharmos o céu. Devemos aprender a amá-Lo porque Ele nos amou primeiro (cf. 1Jo 4,19) e sempre nos amará.

Quanto ao risco do inferno que talvez mereçamos por causa da gravidade de nossos pecados, isso é com Deus. Nunca saberemos se seremos Gestas ou Dimas1 naquelas cruzes. Mas teremos chance até o último momento, e essa será uma decisão nossa!

Jesus continuou amando até o fim e não pronunciou nenhuma sentença de condenação sobre Gestas. Apenas perdoou Dimas. E Judas teve a mesma chance que Pedro. Provavelmente, Seu olhar foi o mesmo para Judas, Pedro, Dimas e Gestas. Jesus não sabia guardar rancor!

Quanto vejo pregações de “retribuição obrigatória” para com Deus sob pena de castigo, e as lembranças constantes de que podemos cair para sempre no inferno porque não amamos os irmãos e a Jesus como deveríamos, eu releio os mais de dois mil textos de minha Bíblia sobre o amor, a compaixão, a misericórdia e a justiça divinas.

Ressalto que castigar ou perdoar não depende do que os pregadores dizem no púlpito, mas sim da decisão de Deus. E só Ele sabe se vai nos punir ou perdoar. De nossa parte, devemos retribuir esse amor que deveria ser de gratidão, porque o d’Ele sempre será eterno. Deus não sabe não amar.

 

Nota

1 Segundo o Evangelho Apócrifo de Nicodemos, nomes do “mau ladrão” e “do bom ladrão”, que foram crucificados ao lado de Jesus. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c51qlekp94po. Acesso em: ago. 2024. (N.R.).

Autor

  • Pe. Zezinho, SCJ

    Aos onze anos, ingressou no seminário dos padres dehonianos.[1] Ordenado padre aos 25 anos em 1966 nos Estados Unidos, adotou no ano seguinte o teatro e a música como meios de evangelização e, em 1969, também os meios de comunicação com este propósito.

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