Quem pode ou quem deve ser catequista?

mar 29, 2023Abril 2023, Momento da Catequese, Revistas3 Comentários

Na edição anterior, comecei a abordar esse assunto, mas, como a principal finalidade era me apresentar, apenas dei uma pincelada sobre o tema. Muitas pessoas sempre me perguntam: quais são as exigências para ser catequista?1 Tenho percebido que muita gente aceita ser catequista por várias razões, mas preciso começar a dizer que ser catequista é sempre um privilégio e deve ser um ministério duradouro. Por isso, como as coisas de Deus, minha dica é começar pequeno e ir crescendo. Comece auxiliando alguém com mais experiência e partilhando as vivências com essa pessoa. Depois de um ano ou mais, escolha um grupo para dividir a fé com eles. Mas vá devagar, porque a Igreja precisa de você a longo prazo. Não comece entusiasmado(a) para logo desistir. Pense longe e grande e não rápido e curto. Dito isso, quero apresentar alguns tópicos que devem ser básicos (desculpe se for falar o óbvio, mas ele também precisa ser dito).²

1) Para ser catequista, você precisa ser católico(a) apostólico(a) romano(a). Ninguém dá o que não tem; então um anglicano ou um protestante não pode ser catequista em nossa Igreja. Do mesmo modo que você, católico(a), não será admitido professor(a) de escola dominical em Igrejas Protestantes ou Pentecostais. Muito justo. Mas não é só isso: você precisa aprender a doutrina da sua Igreja e precisa concordar com ela para ensinar. Catequese não é achismo: você não pode ensinar apenas o que quer, o que gosta ou o que sente. Nem pular as coisas que acha difícil. Muito menos ensinar contra o Evangelho e contra a Doutrina da Igreja. Assim, um catequista precisa crer e conhecer o que vai ensinar, como fazê-lo e como discutir as coisas mais obscuras para sua vida. Por isso, minha dica é começar pequeno e ir crescendo. É preciso saber o que se está fazendo e não dar passos incorretos e falsos.

2) É preciso adaptar a linguagem a cada grupo que a recebe. Você não precisa adaptar o conteúdo de sua catequese, que deve ser fiel à Bíblia como um todo, mas especialmente ao Evangelho de Jesus, o Cristo. Não é a mesma coisa ministrar catequese no centro ou na periferia, para crianças pequenas, para adolescentes ou para adultos. Ou mesmo dar a mesma catequese que se usava há trinta anos. A Igreja não mudou, mas a compreensão da mesma doutrina mudou, bem como a sensibilidade das pessoas nos dias atuais. Frases e expressões que eram normais nas décadas de 1980 ou 1990 hoje não são consideradas de bom tom. Não pare no tempo e no espaço, porque o mundo continua girando, com ou sem você. Assim, é preciso haver um grau de simpatia e empatia com o grupo, senão nada feito. Se você não gosta de adolescentes, nem comece a dar catequese para eles: você só vai semear ateísmo naquele grupo, pois eles vão entender logo que você está ali obrigado a fazê-lo. Antes de mais nada, o catequista precisa saber ganhar a confiança da turma. Se sua resposta for sim, eu consigo, então você passou nesse passo.

3) O passo seguinte é assumir a catequese como ministério, serviço de partilha de experiências.³ Aqui seguem alguns pontos para reflexão:
a) Você não é dono de nada: se você é catequista é para servir a sua comunidade, que precisa de pessoas dedicadas à evangelização. Não existe dizer que “aqui eu mando e faço”. Se alguém pode mandar e fazer na Igreja é o Espírito Santo e ninguém mais. Não se esqueça disto nunca: você está a serviço de sua comunidade eclesial e é para ela que você se dedica.4 Não ao padre, não a seu movimento ou grupo de espiritualidade. Senão a catequese se torna um posto avançado de um grupinho. Lugar para atrair pessoas novas para aquele grupo. O ministério do catequista é permanente e deve ser uma causa a se dedicar ao menos por dez anos. Não comece para largar, se for para isso nem comece. (Leia o número 1: comece pequeno e vá crescendo.) Ser catequista não tem a ver com aparecer ou com poder em uma comunidade. Se você ainda estiver em dúvida, recomendo ler e meditar Mt 20, 17-28, isso vai ajudá-lo(a) a entender o que falo. Então, se quer servir sua comunidade na evangelização das pessoas porque você foi batizado(a) e a Igreja é a sua família (na família, todos colaboram em alguma coisa!), então você passou nesse passo e pode ser catequista.

4) Um próximo nível é saber que catequese não se mistura com escola, nem com Teologia.5 Para ser catequista, você não precisa ser formado(a) em Pedagogia ou ter sido professor(a), embora conhecer um pouco de técnicas e maneiras de ensinar adaptadas seja bom. Mas isso você vai adquirindo com o tempo e a experiência. Tato e educação resolvem muita coisa, sem precisar de muita técnica no começo. Depois, se frequenta as reuniões dos catequistas de sua paróquia ou da sua região da diocese, você pode trocar experiências e vivências com seu grupo. Também saiba que dar catequese é dividir sua fé em primeiro lugar, aqui que você vive é aquilo que pode ser ensinado. Por isso, catequese (mais do que aprendizado escolar) é partilha de fé e de vida com os catequizandos. Assim, nada de ficar discutindo Teologia e hipóteses/teorias de teólogos.

Os teólogos estudam e vivem para fazer avançar a reflexão sobre a fé e a sua vivência comunitária. Para isso, formulam hipóteses que serão lentamente discutidas por seus pares e refutadas ou integradas ao tesouro da fé. Só para dar um exemplo: a hipótese da Imaculada Conceição de Nossa Senhora começou a ser refletida, pensada e rezada a partir do século X para ser proclamada dogma no século XIX pelo papa Pi IX (1792-1878). Ao longo dos séculos, importantes teólogos como Santo Tomás de Aquino (1225-1274) e São Bernardo de Claraval (1090-1153) foram contra a proclamação do dogma pelo papa. Enquanto isso, a Igreja foi discernindo isso e não fazia parte da catequese sobre Maria. Então, se você entendeu que não é aula nem classe de catequese, e se se compromete a ensinar as coisas que são básicas para a fé, e não se perder em hipóteses do teólogo X ou Z (por mais que goste e concorde com ele), você passou nessa etapa também.

5) Uma última coisa: vida cristã não é obrigação de ninguém, nem sua nem das crianças, mas é o básico e sem ela não se pode receber os Sacramentos. Uma criança precisa entender e aprender a gostar de celebrar e estar na Igreja.6 E ela vai aprender isso com seus pais, em primeiro lugar, e com você, em segundo. Assim, um catequista que não vai aos Sacramentos (mas manda ir), não frequenta as reuniões da paróquia (embora diga que é importante), está desfazendo com uma mão o que a outra construiu. Só um pequeno exemplo: você já viu alguém que diz que está namorando, mas ainda não avisou o(a) outro(a) que eles namoram? Isso, se existe, está na cabeça de um só, não é real. Um catequista, os pais ou a criança que não vão à Igreja têm de fazer o favor de não receber os Sacramentos, porque estão vivendo uma farsa. É uma mentira o que vivem e o que recebem. Mesmo se essa pessoa for catequista.

Bem, se passou por essas etapas, você deve ter percebido que eu não disse que você tem que ter estudos, ser rico, ser formado professor(a) etc. As exigências para ser catequista estão no nível da vivência do Evangelho, da vida da Igreja e da coerência pessoal. Um catequista que manda e não faz, que diz que precisa ir à missa, se confessar, rezar, ler a Bíblia e não o faz, semeia ateísmo. Seria bom nem começar. Ao contrário, um bom catequista divide suas experiências de fé, de oração e fala do que vive como católico(a) e como cristão(ã). Se você me segue no meu canal, eu tenho vários vídeos sobre esse assunto, os quais sugeri durante o texto (vá lá e confira). É mais simples do que parece e mais exigente do que sugere à primeira vista também. Diga-me: você pode ser catequista?

Notas

1 Disponível em: https://youtu.be/BUOnNuNFt70. Acesso em: mar. 2023.

2 Disponível em : https://youtube.com/shorts/6IZ1ntsbtnQ. Acesso em: mar. 2023.

3 Disponível em: https://youtu.be/Z2OIeqzT3Zk e https://youtu.be/-aZ8Qe4beno. Acesso em: mar. 2023.

4 Disponível em: https://youtu.be/BUOnNuNFt70. Acesso em: mar. 2023.

5 Disponível em: https://youtu.be/6FDEtKUtJhI. Acesso em: mar. 2023.

6 Disponível em: https://youtu.be/jzLA__hYgAc. Acesso em: mar. 2023.

Autor

  • Pe Paulo Dalla Dea

    Doutor em Teologia Pastoral, com especialização em Catequese de Crisma. Missionário da Misericórdia do Vaticano, atualmente é capelão no santuário de Nossa Senhora de Lourdes, na França

3 Comentários

  1. Denisia Mata Santos Ribeiro

    Muito bom.

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    • Leda Tulumba

      Muito obrigada pelo aprendizado!

      Responder
  2. Denisia Mata Santos Ribeiro

    Muito boa a explicação do que é ser catequista.

    Responder

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