O papa Francisco de volta à sua terra natal

fev 28, 2024Assinante, Igreja em renovação, Março 2024, Revistas0 Comentários

Em dezembro de 2023, o papa Francisco completou 87 anos de vida. E ele já pode ser considerado um dos pontífices mais longevos da história. Que o atual líder da Igreja Católica é um dos que mais colecionam marcos históricos desde a sua eleição, em 13 de março de 2013, isso já sabemos. Basta nos atentarmos ao fato de que ele é o primeiro papa latino-americano da história. No entanto, sempre vale a pena lançar o olhar sobre as entrelinhas de suas decisões. Não faltarão ocasiões para nos surpreendermos.

Não menos interessante é sua visão de governo, que, além de transformá-lo em um líder de referência para todo o mundo, aproxima-o de questões sobre quais, até um tempo atrás, a Igreja Católica seria a última a ser consultada.

De repente, assuntos ligados a meio ambiente, migrações e violência contra a mulher passaram a integrar com frequência discursos, homilias e pregações do Bispo de Roma. E isso faz dele, de maneira concreta, o representante máximo de uma instituição “expert em humanidade”, como já definia seu predecessor São Paulo VI (1897-1978).

Por outro lado, esse tipo de postura não atrai a seu entorno somente admiradores, mas grandes opositores. E o mais recente, que pelo menos durante a campanha presidencial esbravejou aos quatro-cantos contra o que ele consideraria “um papa comunista”, foi o atual presidente da Argentina, Javier Milei (1970-). E como o papa Francisco respondeu a isso? Indo ao encontro dele. É esse tipo de atitude que faz o pontífice argentino alguém dotado de um diferencial.

A Santa Sé não pode tecer suas ações diplomáticas com base em preferências pessoais de quem quer que seja. E o caso de Milei é um exemplo claro disso. Há divergências evidentes entre o atual mandatário da Casa Rosada e o pontífice. Mas em nenhum momento o papa Francisco lhe faltou com respeito, nem insinuou qualquer tipo de oposição aberta. Quando questionado, ele simplesmente exprime a preocupação com o povo argentino – seu povo.

À diferença de outros pontífices, que na primeira oportunidade que tiveram retornaram à própria terra natal após assumirem o Trono de Pedro, o papa Francisco preferiu, em um primeiro momento, excluir seu país de origem da lista de nações a serem visitadas. Ele considera que seria “egoísmo de sua parte” privilegiar a Argentina em vez de ir a lugares que, nem nos melhores sonhos do passado, receberiam a visita de um papa.

É esse tipo de atitude que faz o pontífice argentino alguém dotado de um diferencial.
A Santa Sé não pode tecer suas ações diplomáticas com base em preferências pessoais de quem quer que seja

Tanto que ele só voltou a cogitar uma visita recentemente, sinalizando que poderia retornar “a su tierra” no segundo semestre de 2024.

E, detalhe: a convite do próprio Milei, em retribuição ao fato de que foi o papa Francisco quem tomou a iniciativa de telefonar-lhe para felicitá-lo após ser eleito, em dezembro de 2023. Antes disso, os dois líderes se encontraram em fevereiro, uma vez que Milei participou da canonização da primeira santa argentina, a Beata María Antonia de Paz y Figueroa (1730-1799), mais conhecida como Mama Antula.

É por isso que nós, vaticanistas, costumamos dizer que o papa Francisco “se prepara para o fim”. Não que ele não esteja bem de saúde. Aliás, podemos dizer que está muito bem, obrigada!, apesar de sua idade. Mas é um claro sinal de que o pontífice se considera satisfeito com tudo o que realizou até aqui. E nada melhor que entrar em contato com as próprias raízes para celebrar tal feito.

Autor

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *