“É isso que eu quero, é isso que eu procuro”

jun 30, 2023Assinante, Encontro com a Espiritualidade Franciscana, Julho-Agosto 2023, Revistas1 Comentário

Quando o desejo do ser humano se abre ao desejo de Deus (Parte 2)

São Francisco encontrou um sacerdote que o orientou e o levou a compreender o que tinha ouvido.
O acompanhamento das pessoas, sobretudo dos jovens, é essencial para o discernimento nas coisas essenciais da vida.

Até que ponto adolescentes, jovens e adultos jovens podem ou querem ser auxiliados, acompanhados? O que seria, em nossos dias, um verdadeiro acompanhamento vocacional? Muitos chegam aos vinte e poucos anos com sua vida praticamente comprometida. Será que a leitura do Evangelho não consegue iluminar essas vidas estraçalhadas?Foto EspiritualidadeFranciscana 02JulAgo23

“Escutar a Deus.
Buscar a Deus.
Deixar-se amar e modelar por Deus.
Deixar-se conduzir de novo no meio da noite pela esperança que ganhou rosto em Jesus Cristo”

“Francisco ouve que os discípulos não deviam possuir ouro, nem prata ou dinheiro… Francisco responde imediatamente”. Será que, em nosso tempo, se poderá responder com tanta generosidade? Muitos de nossos contemporâneos pensam que, na atualidade, não se podem viver as propostas de Jesus e o jeito de São Francisco. Depois de alguns decênios, as condições de vida melhoraram, em especial nos países desenvolvidos. A população desses países não deseja retroceder. Mas grande parte da humanidade, ainda hoje, vive na miséria, em uma situação que não escolheram. São bilhões os que vivem em total vulnerabilidade social. Mais de um terço da população mundial está privada do acesso à água potável. Há milhões de analfabetos, metade mulheres.

Recentemente, o mundo foi assolado pela pandemia da Covid-19, que deixou milhões de mortos. Também há HIV, cegueira, mortes prematuras, guerras, conflitos, fome, miséria… miséria, sempre miséria. Há aqueles que vivem tentando mal e mal sobreviver, não morrer, salvar a vida. E não têm tempo para mais nada. Nosso mundo é dirigido pela economia, cujo deus se chama Mercado. Uma economia inspirada no lucro, no desempenho, na concorrência, na qual estão ausentes os valores da fraternidade, da solidariedade e do respeito individual e coletivo.

São Francisco foi convidado a ir pelo mundo afora, em que ele e seus discípulos haveriam de caminhar apenas com o indispensável. Por seu gesto profético, ele nos convida a sair de nosso horizonte, para que nosso olhar abranja a humanidade inteira. O Poverello pede que, ao menos, lancemos nosso olhar sobre a humanidade inteira e que prestemos atenção especial aos rejeitados e excluídos… Ir pelo mundo…

Seu gesto nos convida a partilhar. Partilhar é mais do que dom. Se ficamos no dom, permanecemos em uma posição de mando, de domínio, em um relacionamento de poder. Pelo viés da partilha, entramos em uma relação que permite a cada um(a) se sentir respeitado(a) e reconhecido(a). O(a) outro(a), mesmo o(a) mais pobre entre os(as) pobres, o(a) mais desprotegido(a), possui riquezas humanas e culturais que precisam ser acolhidas.

São Francisco com o crucifixo de São Damião, Sofia Novelli

São Francisco com o crucifixo de São Damião, Sofia Novelli

O(a) outro(a), independentemente da etnia, da cultura, do sexo, é meu irmão, minha irmã. Não é um(a) concorrente que preciso eliminar para ser melhor do que ele(a) e sempre ganhar. O(a) outro(a) é meu irmão, minha irmã, meu igual em direito e em dignidade. Como São Francisco de Assis, irmão universal, irmão dos hansenianos, irmão do lobo, irmão do sultão, irmão de todos, irmão dos elementos (Sol, Lua, estrelas, água, terra e mesmo tendo a morte como irmã), os homens de boa vontade que se inspiram no Evangelho e no jeito franciscano de viver nos tornamos irmãos e irmãs universais.
Considerações finais

“No coração da espiritualidade de Francisco: a fé vigilante. Para além das ideologias, das sirenes que anunciam desgraças, dos slogans publicitários que falam de felicidade, permanecer disponível ao chamado de Deus, ao Espírito o Senhor. Iluminar o mundo com nossas fontes interiores. Escutar a Deus. Buscar a Deus. Deixar-se amar e modelar por Deus. Deixar-se conduzir de novo no meio da noite pela esperança que ganhou rosto em Jesus Cristo. Despertar dessa sonolência em que adormeceu nosso mundo ocidental. O projeto evangélico de São Francisco radica-se na fé. Fé que crê em um Deus amor, que seu projeto sobre os homens faz explodir a estreiteza de nossos horizontes e que esta dependência de amor não aliena o homem, mas o liberta. Podemos repetir aquela oração que Francisco recitava com frequência, durante a busca da verdade, diante da imagem do Cristo crucificado na Igreja de São Damião: ‘Altíssimo e glorioso Deus, ilumina as trevas de meu coração, dá-me uma fé integra, uma esperança firme e uma caridade perfeita, para que eu possa cumprir a vossa vontade e não me afastar de vós’”.1

Nota

• HUBAUT, Michel. El caminho franciscano. Navarra: Editorial Verbo Divino, 1984. p. 18-19.

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1 Comentário

  1. clemoco48

    Excelente

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