Apresentação do Menino Jesus no Templo

fev 26, 2024Assinante, Entendendo a Bíblia, Março 2024, Revistas1 Comentário

Sua história em meio a candeias e luz, velas e velório na vida (cf. Lc 2,22-40)

O conteúdo sobre o qual vamos refletir neste artigo é Lucas 2,22-40. Quarenta dias nos separam do Natal, a festa do Deus-Menino, a Luz que não se apaga. Sabemos que o Natal é uma releitura da celebração do nascimento da divindade romana do Sol Invicto. No menor dia do ano, o sol renasce.

Essa comemoração chegou ao Ocidente, a Roma, originária do Oriente, especificamente da Síria. Ela foi instituída no Império por Marco Aurélio (121-180). Mais tarde, Constantino (272-337), o imperador convertido ao cristianismo, decretou que o sétimo dia da semana fosse um dia de descanso para os magistrados e o povo, e que se chamaria domingo, em homenagem ao Sol. Sendo Jesus o Sol que não se apaga, pois Ele é a luz que vem de Deus (Luz), a ocasião passou a ser o “Dia do Senhor” para o Império Romano. Os cristãos já o consideravam como dia da ressurreição de Jesus.

Entre os judeus, conforme atesta o historiador Flávio Josefo (37–100), era proibido celebrar festas de aniversários entre o povo. Foi o papa Júlio I (337-352) que decretou o Natal como comemoração do nascimento de Jesus, passando a ser celebrado no dia 25 de dezembro, na outrora festa pagã do Sol Invicto.

Resolvida essa questão polêmica, mais tarde, o imperador Justiniano I (482-565), em 542 E.C., decretou a celebração de outras festas decorrentes do Natal, entre elas: a da apresentação do Menino Jesus no Templo, quarenta dias após o Natal, concomitante com a de Nossa Senhora das Candeias.

Rezava a lei judaica (cf. Lv 12,1-4) que toda mulher que desse à luz deveria, quarenta dias depois do parto, ir ao Templo de Jerusalém para fazer sua oferta de purificação e consagração do primogênito. Tudo dependia de sua condição social. Maria e José ofereceram, de sua pobreza, um casal de pombos.

Maria terá levado consigo, conforme o costume, uma vela (candeia) acesa, na procissão de apresentação do Menino Jesus no Templo. Ele era primogênito e, portanto, deveria ser consagrado ao Senhor. A luz ilumina a mãe que leva o filho luz diante da grande Luz, que é Deus. Vela e luz encontram-se.

Na Idade Média (séculos V ao XV), Maria passou a ser celebrada como “Nossa Senhora das Candeias (da luz), da Candelária, da Luz ou Purificação”. Essa relação devocional com Maria surgiu da tradição de fé espanhola. Conta-se que, nas Ilhas Canárias, por volta do ano 1400, quando dois pastores guardavam seus animais perto de uma caverna, eles perceberam que os bichos não queriam entrar no local; mas eles entraram e depararam com uma imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços. O fato tornou-se conhecido. O povo foi ver a imagem e encontrou seres invisíveis com candeias e velas nas mãos ao lado de Nossa Senhora. Daí o título de Nossa Senhora da Candelária.
Muito antes desse fato, no entanto, o papa Gelásio (?-496), em seu pontificado de 492 a 496, instituiu na Igreja uma solene procissão noturna de velas em homenagem a Maria. A partir de então, essa festa mariana e a da apresentação do Menino Jesus no Templo ganharam tradição no Império Romano.

Segundo a Tradição, quando Maria chegou ao Templo, a luz dos olhos do velho Simeão bendisse a Deus por ter visto o Messias, a luz que iluminaria os povos. Porém, esta seria causa de tropeço para muitos. Por ter trazido a luz ao mundo, Maria também sofreria com uma espada que traspassaria sua alma, quando a luz dos olhos de seu Filho fosse apagada pelos adversários d’Ele.

A Apresentação no Templo, séc. XVIII, escola italiana
Nossa vida é marcada, do nascer ao morrer, por trevas, luzes e velas em relação a Deus. Esse substantivo, que em sânscrito, umas das línguas indo-europeias mais antigas, grafa-se com dêva ou dywe, que vem de div e significa ‘brilhar’, e dew, ‘luz, brilho’. Assim, da raiz de brilhar, luz, originaram-se os substantivos Deus e dia. Daí que ‘bom dia’, bôdiè, é o mesmo que ‘boa luz’ e ‘bom deus’. Em outras palavras, ‘que Deus seja luz em seu caminho’.

Quando criou o mundo, primeiramente, Deus fez a luz para a distingui-la das trevas (cf. Gn 1,3). Quando nascemos, nossa mãe nos dá à luz. Nascemos, chegamos à luz do dia. Noite e trevas rondam o nosso viver. Sempre buscamos a luz. Uns perdem a luz de sua vida e passam a ser sinal de escuridão. Alguns até chegam a tirar a luz da própria vida. Triste sina! Outros não têm o acesso à vida digna e passam uma vida inteira sem o brilho da dignidade social.

Quando comemoramos nosso aniversário, apagamos a luz de velas, significando o fim de um passado e o recomeço na luz de um novo ano de vida. Quando morremos, acendem velas para nós. Celebram nosso velório que, no passado, era somente à luz de velas. Naquele dia, uma última vela de nossa existência terrena é apagada em nossa vida mortal. Um confrade meu de saudosa memória, frei Antônio Rocha, disse com voz trêmula, no leito de morte: “Sinto que uma luz está se apagando dentro de mim, não consigo mais!”

Quem foi luz na vida terá a graça de se reencontrar com Deus, a Luz da qual originou a nossa vida. A Luz que nunca apaga na morada eterna. Que sejamos como o Menino Jesus, luz para todos! Que Maria nos ajude a iluminar os caminhos de nossa vida com a vela da fé que a conduziu ao templo de Jerusalém. Que Simeões e Anas nos abençoem no decorrer da apresentação de nossas vidas, até o dia derradeiro de nossa existência, sendo sinal de luz na vida de pessoas e povos em todo o planeta.
Que Deus luz ilumine nosso tempo tão marcado pelas trevas do erro, pela desigualdade social, pela ganância de alguns e pelo sofrimento de tantos. Amém! Que Sua luz brilhe eternamente!

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1 Comentário

  1. clemoco48

    Excelente!

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