A importância da conversão

mar 29, 2023Abril 2023, Assinante, Certas Palavras, Revistas0 Comentários

[…] Reconciliação com Deus e com o próximo.
Uma nova filosofia de vida que se deve formar em cada membro do Corpo Místico de Cristo.
(cf. São Paulo VI, 1897-1978)

É necessário reconhecer constantemente o sentido da conversão. Trata-se de uma completa revisão de vida que não deve ter como consequência somente uma mea culpa, mas sim o esforço cotidiano de rever e mudar nosso modo de pensar, de sentir e de agir. Tudo isso em conformidade com o Deus nos revela em Cristo. A conversão é um processo contínuo. Nunca estamos convertidos plenamente, mas sempre estamos nos convertendo. Com nossa decisão de seguir Jesus, iniciamos, como os apóstolos, um processo de transformação de vida.

Nosso modelo ideal é o Cristo mesmo. Em Jesus, está o caminho a seguir para encontrar a verdade e viver a plenitude da vida. N’Ele se nos apresenta para fazer, finalmente, aquela conversão consciente e total a Deus, que se manifestava tão evidente no novo estilo de vida social dos primeiros pagãos que recebiam como adultos o batismo.

Uma nova filosofia de vida deve trazer um novo estilo de vida.
Se pensarmos, porém, nos exemplos de Flávio Justino (100-165), em Clemente de Alexandria (?-217) ou em Santo Agostinho de Hipona (354-430), nós nos envergonhamos. Eles, como cristãos, nasceram adultos; nós, cristãos, desde pequenos, assim permanecemos. Pois Deus fez Sua parte, amando-nos desde o seio materno, porque nascemos em uma família cristã; mas nós nem sempre fazemos nossa parte. Sentimo-nos e permanecemos como “filhos de papai”, como usurpadores de um patrimônio de santidade para cujo crescimento pouco ou nada contribuímos.

Devemos retificar, portanto, nosso modo de pensar e de sentir: libertamo-nos, por exemplo, da adolescência, etapa em que tudo o que é da família parece sem graça e pouco atrativo, enquanto o que se vê fora nos parece novo, interessante, válido, repleto de promessas e de liberdade. Não significa que, com isso, não possamos ou devamos dialogar com os outros; ao contrário, devemos fazê-lo, porém, como cristãos, ou seja, sendo nós mesmos conscientemente Cristo, capazes de assumir o mundo permanecendo como tais. Senão, andaremos por toda a vida em busca de nossa identidade e de nosso papel na sociedade, com o terrível engano final de descobrir, com a mesma honestidade do filho pródigo, que já possuíamos o que buscávamos.

Jesus viveu a cultura de Seu povo em Seu tempo, mas nem por isso raciocinou com as categorias hebraicas. Em vez disso, derrubou as barreiras individualistas e nacionalistas-religiosas, para abrir os corações da própria civilização, fundada sobre a comunhão de todas as criaturas com o Pai.

A conversão faz que reconheçamos nossa dignidade original e de todas as pessoas, eliminando todos os empecilhos, como os sentimentos de inveja, de ciúme, de julgamento, de superioridade, qualquer desejo de conquista, de manipulação, de usurpação. Em vez disso, precisa possibilitar o amor concreto e desinteressado, o respeito e a estima do outro, de sua tradição e cultura, sem economia de meios para restabelecer moral e materialmente uma comunhão de amor entre irmãos, de modo que, sem hipocrisia ou fraude, se possa dizer: “Pai nosso”.

Este é um objetivo muito elevado e abrangente: engloba os relacionamentos nas famílias, nas comunidades eclesiais, entre as igrejas, nas funções sociais, bem como entre os políticos, os povos e as etnias. Isso pode parecer uma utopia, mas, se cada um(a) de nós estivermos prontos, como Jesus, a darmos a própria vida até por aqueles que consideramos adversários, a conversão pessoal leva ao estabelecimento de uma nova civilização: a amor, não do poder, do ter e do prazer. Jesus revelou pessoalmente como enfrentou e venceu essas tentações, deixando-nos o testamento para que aprendêssemos com Ele a fazer o amor vencer.

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