Santo Antônio e Nossa Senhora

abr 30, 2023Caminhando Hoje com Sto. Antônio, Maio 2023, Revistas1 Comentário

Conta-se – pode ser uma lenda – que Santo Antônio de Lisboa e Pádua (1195- -1231) estava se preparando para uma homilia em honra de Nossa Senhora. Quando se pôs a ler o Evangelho segundo São Lucas (cf. Lc 2,24ss.), ele ficou intrigado como José e Maria tinham cumprido a Lei de Moisés que ordenava, no Livro do Levítico, oferecer em sacrifício um par de rolinhas ou dois pombinhos, no mínimo. As pessoas ricas deviam ofertar uma ovelha ou um boi. Santa curiosidade! Naquele mesmo instante em que assim pensava, pousou no parapeito da janela de seu quarto um… pombinho! Frei Antônio sorriu e agradeceu. Vira nele o sinal da resposta dos céus à sua dúvida…

Mas o que mais interessa aqui é que frei Antônio seguia a mesma inspiração do Pai São Francisco de Assis (1182-1226). Este, quando teve a feliz ideia de fazer na pequena comuna de Greccio, na região do Lácio, Itália, um presépio ao vivo e em cores, com a participação de todo aquele povo que, entusiasta, aderiu à feliz ideia que se perpetuou até os dias de hoje, por obra dos frades franciscanos, no mundo inteiro, começou uma linda tradição. Pudera! Frei Francisco deleitava-se ao contemplar a pobreza de nosso senhor Jesus Cristo desde Belém até o alto do Calvário. No Natal de 1223, em Greccio, dirigindo-se à multidão, ele exclamava: “Eu quero ver com meus olhos a pobreza por que passou o Menino Jesus e sua mãezinha a Virgem Maria e como ele ficou deitado na palha entre o boi e o jumentinho!”

A devoção a Maria, portanto, foi uma herança viva desde os inícios da Ordem Franciscana e, por onde vivem os frades, tudo se faz para venerar a “pobreza do Menino e sua mãe pobrezinha”, armando presépios em todos os lugares. Voltando ao nosso frade, frei Antônio (Santo Antônio de Lisboa e Pádua), sabemos que ele escreveu seis sermões sobre Nossa Senhora:

  •  Um sobre o Nascimento de Maria.
  • Dois sobre a Anunciação.
  • Dois sobre a Purificação.
  • Um sobre a Assunção.

Os frades menores conventuais, tendo à frente o saudoso frei Vergílio Gamboso e equipe (frei Benjamim Costa, frei Leonardo Frasson, frei João Luisetto e Paulo Marangon), elaboraram uma obra monumental e cientificamente correta e preciosa, em três volumes, na original língua latina, como escrevia frei Antônio nos anos 1223 e 1231. E os sermões de Santo Antônio sobre Nossa Senhora estão contidos nos Sermões Dominicais e Marianos (v. II) e nos Sermões Dominicais e Festivos (v. III). Ambos (além do v. I) foram publicados pela Editora Messaggero, em Padova, na Itália, em 1979. Destacamos também estas preciosas obras, em língua portuguesa:

  • Sermões. Frei Ary E. Pintarelli, ofm. Petrópolis: Vozes, 2019.
  • Sermões: do Domingo da Septuagésima a Pentecostes. Tradução de Paulo Augusto da Silva e Tiago J. R. Leme. São Paulo: Paulus, 2020. v.1.
  • Sermões Dominicais e Festivos. Introdução, tradução e notas de frei Henrique Rema. Lisboa: Ed. Soc. Língua Port., 1970. (Edição bilíngue).

Para finalizar, seguem alguns preciosos textos de Santo Antônio, retirados de seus sermões:

Sermão do Nascimento de Maria

“A gloriosa Virgem Maria foi como ‘a estrela da manhã entre as nuvens’ (Eclo 50,6). A estrela da manhã é chamada de ‘lucífera’, porque brilha mais do que todas as estrelas e de modo mais exato é chamada de iubar, quer dizer, ‘esplendor, astro’.

Lucífera que precede o sol e anuncia o dia, dissipa as trevas da noite com o brilho de sua luz. Estrela da manhã ou lucífera – ‘portadora da luz’ – é a Virgem Maria que, nascida na sombra, da nuvem, dissolveu a fumaça tenebrosa e, a aqueles que estavam nas trevas, na manhã da graça, ela anunciou o sol da justiça.

De fato, referindo-se a ela, o Senhor diz: ‘És tu que fazes despontar a seu tempo a estrela da manhã’ (Jó 38,32). E quando chegou o tempo de mostrar misericórdia, o tempo de construir a casa do Senhor, o tempo favorável, e o dia da salvação, aí, sim, o Senhor fez surgir a estrela da manhã, isto é, a Virgem Maria para que fosse a luz dos povos. E os povos devem dizer a ela o que o povo de Betúlia disse a Judite: ‘O Senhor te abençoou com o seu poder, porque por teu meio venceu os nossos inimigos. Bendita és tu, filha, diante do Deus altíssimo, mais do que todas as mulheres que vivem sobre a terra. E bendito é o Senhor Deus que criou o céu e a terra e te guiou a dar o golpe fatal aos nossos inimigos. Hoje ele exaltou o teu nome de modo que o teu louvor jamais cessará na boca dos homens’ (Jt 13,18-22).

A bem-aventurada Virgem Maria, em seu nascimento, portanto, foi como a estrela da manhã. Dela é que o profeta Isaías falou: ‘Um broto vai surgir do tronco seco de Jessé, das velhas raízes um ramo brotará’ (Is 11,1). Observe que a Virgem Maria é comparada a um broto por causa das cinco propriedades que ele possui: é longo, reto, sólido, sutil e dobrável.

Assim Maria foi longa na contemplação, reta pela sua perfeita justiça, sólida pela firmeza da mente, sutil (sóbria) pela pobreza e dobrável pela humildade. Este broto nascido da raiz de Jessé, que foi pai de Davi: deste descende Maria, ‘da qual nasceu Jesus que é chamado o Cristo’. Por este motivo, na festa do nascimento de Maria, lê-se o trecho do Evangelho que lembra a genealogia de Cristo, filho de Davi.

‘Um broto vai surgir do tronco velho de Jessé e uma flor brotará de suas raízes’ (Is 11,10). Na raiz é indicada a humildade do coração. No broto é indicada a plenitude da confissão e o compromisso da reparação. Na flor é indicada a esperança da felicidade eterna.” Rezemos, pois:

Texto em latim

Rogamus ergo te, Domina nostra, ut tu que es stella matutina, nebulam demoniacae suggestionis mentis nostrae terram tegentem,
tuo splendore expellas.
Tu quae es plena lunam, vacuitatem mostram adimpleas, peccatorum nostrorum tenebras diluas quatenus ad vitae eternae plenitudinem, ad gloriae indeficientis lucem pervenire mereamur. Ips praestante, qui te in lucem mostram produxit, qui, ut ex te nasceretur, te hodie nasci fecit. Cui est honor, et gloria iun saecula saeculorum. Amen.

 

Tradução

Nós vos pedimos, Nossa Senhora, a vós que sois a estrela da manhã: expulsai com o vosso esplendor a nuvem da tentação diabólica que cobre a terra da nossa mente.
Vós, que sois a lua cheia, enchei o nosso vazio, dissipai as trevas dos nossos pecados para que mereçamos alcançar a plenitude da vida eterna e a luz da glória infinita! Tudo isso nos conceda Aquele que vos criou para serdes nossa luz, aquele que hoje vos fez nascer para ele mesmo poder nascer de Vós.
A Ele toda honra, toda glória nos séculos dos séculos. Amém.1

Notas

1 PÁDUA, Santo Antônio de. Sermões Dominicais e Festivos. Tradução de Frei Geraldo Monteiro. Padova: Ed. Messagero, 1970. p. 106 ss. v. II.

Autor

1 Comentário

  1. clemoco48

    Linda publicação de Santo Antônio sobre Nossa Senhora!

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