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[lwptoc]
5 de novembro
Solenidade de Todos os Santos
Mt 5,1-12a
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus.
Na Solenidade de Todos os Santos, a Igreja celebra, antes de tudo, o chamado que Deus faz a todos: “Sede santos, como eu sou santo” (1Pd 1,16). Mas, o que significa dizer que Deus é Santo? E o que significa, para nós, sermos ‘santos’?
A palavra ‘santo’, nas Escrituras, significa, em sua origem, ‘separado’. Afirmar que Deus é Santo significa dizer que é ‘separado’ da criatura, no sentido de que Ele é infinitamente maior do que tudo o que existe, e de que, portanto, somente Deus é Deus. Portanto, só Deus é Santo, pois tudo o mais que existe é criação d’Ele! A santidade de Deus é Sua vida em Si mesmo, que não depende em nada do que existe. No entanto, Deus cria todas as coisas, e ao ser humano diz: “Sede santos”!
O que significa, para nós, sermos santos? O que Deus nos pede ao dizer-nos: ‘Sede santos’? Somente Deus é Santo, e, ao nos chamar à ‘santidade’, Ele nos chama a participar de Sua vida! Ser santo significa ser ‘separado’ daquilo que é tão somente ‘deste mundo’, para então passar a fazer parte da ‘vida de Deus’. Jesus compartilha conosco essa vida de Deus fazendo-se um de nós, anunciando e nos chamando a participar do Reino de Deus, que Ele nos proporciona com Sua vida e Seus ensinamentos. O caminho da santidade está, portanto, em acolher e viver a Palavra de Deus, sobretudo a Palavra de Deus manifestada a nós em Jesus Cristo!
Como ‘Deus é amor’, e o amor de Deus manifesta-se em Sua bondade para conosco, o caminho de santidade é caminho de amor e bondade. Diz o cardeal Tolentino Mendonça (1965-) que “o pecado é a banalidade do mal, e a santidade é a normalidade do bem!” A santidade, portanto, não é algo extraordinário e somente para uns poucos iluminados. Ela é um chamado para todos nós! Ao sermos chamados a participar da Vida de Deus, somos convidados a viver como filhos e filhas amados! A procura pela santidade deve, portanto, ser a busca para realizarmos de modo profundo nossa humanidade que almeja o amor; amar e ser amado(a), aspira à eternidade, à comunhão, à harmonia e à paz; anseia e deseja a Deus!
A Solenidade de Todos os Santos é a celebração da certeza de que, na História, muitos homens e mulheres, para além dos santos oficiais da Igreja, viveram a ‘normalidade do bem’, buscaram a Jesus e viveram o Evangelho no cotidiano, e, mesmo não sendo conhecidos pelo mundo, têm o coração conhecido por Deus!
O Evangelho apresenta-nos como caminho para a santidade as bem-aventuranças! A vida é uma aventura a que somos chamados a viver no ‘bem’, devendo ser fonte de profunda alegria! A palavra ‘bem-aventurados’ na Escritura tem o significado justamente de: ‘felizes’! Jesus anuncia como ‘felizes’ aqueles que são pobres de espírito, os que, mesmo aflitos, buscam o consolo em Deus; os mansos; os que buscam a justiça, mas também a misericórdia; os puros de coração, ou seja, aqueles que buscam ser verdadeiros, transparentes, honestos; os que promovem a paz! Mesmo se forem perseguidos, injuriados e incompreendidos, se semearem os valores das bem-aventuranças, depositando sua confiança em Deus e no próprio bem, encontrarão felicidade e paz interior! Esses estão separados da ‘lógica do mundo’, do egoísmo, da divisão, do consumismo, da busca tão somente pelo prazer, pelo poder e pelo ter! Esses já participam do Reino ao qual Ele nos chama! Tal é o caminho da santidade (cf. Mt 5). Celebrar Todos os Santos é celebrar o dom e a graça aos quais o Senhor nos chama: participar da comunhão com Ele e da intimidade de Sua vida!
12 de novembro
32º Domingo do Tempo Comum
Mt 25,1-13
O noivo está chegando, ide ao seu encontro.
Vai-se aproximando o fim do Ano Litúrgico, e a liturgia da Palavra vai nos direcionando o olhar para o futuro, para o que chamamos ‘fim dos tempos’ ou ‘a volta do Senhor’. Em outras palavras, esses temas se referem às ‘coisas últimas’, ao sentido último da vida. Para onde caminhamos em nossa vida? Qual fim nos espera, e, a partir daí, o que esperamos de forma definitiva?
A vida humana é feita de esperanças e esperas. Quando alcançamos e realizamos algo, passamos a esperar e a buscar outras coisas. Qual é nossa esperança última, e, assim, o sentido último de nossa vida? No fundo, esperamos e desejamos a Deus, o Amor absoluto: amar e ser amado(a) eternamente! Mas vivemos na busca daquilo que, no mais profundo de nosso ser, esperamos? Este Evangelho nos fala justamente sobre o saber esperar aquilo que de fato buscamos!
O Reino de Deus (aquilo que no fundo buscamos, a comunhão com o Senhor), como nos diz Jesus, é semelhante à história das dez jovens que estavam à espera do noivo para participarem da festa de casamento (cf. Mt 25,1). No tempo de Jesus, as bodas possuíam um rito todo próprio. O noivo deveria comparecer à casa da noiva para festejarem. Era costume que as amigas da noiva estivessem juntas, esperando com ela a chegada do noivo. O Evangelho cita que, das dez jovens que esperavam o noivo, cinco eram previdentes e trouxeram suas lâmpadas com o óleo, e as outras cinco trouxeram somente a lâmpada, sem o óleo. Como o noivo demorava a chegar, todas dormiram.
Todos nós (as dez jovens) esperamos o Senhor (o noivo) e desejamos a salvação. Como o noivo demorava a chegar, todas dormiram. Por vezes, experimentamos também as ‘demoras de Deus’: parece que Ele não atua, e acontecem situações que não entendemos! Todas as dez jovens dormiram! Neste Evangelho, ‘dormir’ não é deixar de vigiar. Todos nós precisamos do repouso e do descanso. Mas, antes do descanso, e de tantas outras coisas que temos de fazer em nosso dia a dia (trabalhar, estudar, divertir-nos, repousar, entre outras), será que preparamos o óleo para a lâmpada tal como as jovens previdentes? Elas também, com toda certeza, não compreendiam por que o noivo demorava, mas, mesmo assim, traziam o óleo para suas lâmpadas! O que isso significa?
Os cristãos devem viver dia a dia como quem ‘traz o óleo para sua lâmpada’, ou seja, como quem está pronto para quando o Senhor vier, ou quando formos nós a encontrá-Lo! A espera dos cristãos não é ‘cruzar os braços’, mas sim uma espera ‘ativa’ de quem preparou a lâmpada com o óleo’. Essa espera ativa se realiza pela ação do amor, pela fidelidade à Palavra do Senhor, que é o noivo!
As cinco jovens que não trouxeram óleo pediram às outras cinco: “Dai-nos um pouco de óleo, porque as nossas lâmpadas estão se apagando”. As previdentes responderam: “De modo nenhum, porque o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós” (Mt 25,8-9). De fato, não se pode compartilhar aquilo que cada um construiu de sua vida com o(s) outro(s)! Podemos nos ajudar mutuamente no amor, mas ninguém pode tomar decisões e construir a vida dos demais. Cada um(a) é responsável por aquilo que vai construindo de sua vida. Aqui, fica a questão: como estou construindo minha vida? Como quem pensa somente no ‘aqui e agora’, somente ‘em si mesmo(a)’, ou como quem constrói sua vida no horizonte da eternidade e do Amor? Aí está a serena vigilância!
19 de novembro
33º Domingo do Tempo Comum
Mt 25,14-30
Como foste fiel na administração de tão pouco, vem participar de minha alegria.
Jesus conta a Seus discípulos a parábola que chamados de “parábola dos talentos”. “Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. A um deu cinco talentos, a outro deu dois e, ao terceiro, um – a cada qual de acordo com sua capacidade” (Mt 25,14-15). Esse homem representa o próprio Senhor, que confia a nós ‘os Seus bens’, bem como a graça de ‘Seu Reino’, ao qual somos convidados a adentrar, chamados a anunciar e a edificar! Esse Reino que o Senhor nos confiou se edifica a partir das capacidades individuais (cf. Mt 25,15). Os talentos são as graças que o Senhor nos confia para que, com nossas capacidades, possamos fazer frutificar, multiplicar, fazer crescer Seu Reino!
Após compartilhar seus bens com os empregados, aquele homem partiu, para voltar “[…] depois de muito tempo” (Mt 25,19). O empregado que recebeu cinco talentos fez lucrar outros cinco, e o que recebeu dois fez lucrar outros dois (cf. Mt 25,16-17). Ao confiar Seus bens a nós, o Senhor dá-nos autonomia e liberdade para fazê-los frutificar. Ele não fica nos ‘vigiando’ e ‘controlando’, mas confia em nós! Esse tempo até a volta do Senhor é o ‘tempo da Igreja’, cuja missão é fazer multiplicar os bens que o Senhor concedeu, fazer crescer Seu Reino. Isso acontece a partir de todos os ministérios, movimentos e pastorais que se desenvolvem no seio da Igreja a partir das capacidades de seus integrantes, como também por meio de todo bem e de todo testemunho pessoal daqueles que vivem criativamente o Evangelho.
“Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O patrão lhe respondeu: ‘Servo mal e preguiçoso! […]’” (Mt 25,24-26). Esse empregado deveria ter se alegrado pelo patrão ter-lhe confiado seus bens, mas foi ‘preguiçoso’ e justifica sua atitude de ‘esconder o talento’ por ter ‘medo’ do patrão. Quantas vezes, semeou-se uma imagem distorcida de Deus, fazendo-se que as pessoas tivessem medo d’Ele! O medo paralisa. Quem se relaciona com Deus com base no medo se preocupa em cumprir corretamente leis, ritos, entre outros, mas não faz a experiência do amor. Diante da experiência do medo provocada por uma imagem falsa de Deus, a pessoa não faz a experiência do amor, nem a experiência de comunicar esse amor aos outros! Por que anunciar um Reino de medo? Bastaria somente fazer tudo ‘certinho’. Mas isso não seria de fato o Reino de Deus, que é amor e deve ser ‘multiplicado’ por meio da criatividade do amor! Mas quantos também não fazem multiplicar os talentos do Senhor, a graça do Reino de Deus, porque estão preocupados somente com ‘as próprias coisas’! Esses escondem as coisas de Deus e não dão testemunho do Evangelho.
Diz o patrão àquele empregado que enterrou o talento: “Devias ter depositado o meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence” (Mt 25,27). O que isso significa? Se algo nos impede de agir em prol do Reino de Deus por um motivo maior, devemos crer que esse Reino deve se multiplicar. Além disso, precisamos contribuir não enterrando o talento, ou seja, não ocultando de nossa vida ‘o bem que o Senhor nos dá’, ‘a graça do Evangelho, do Seu Reino’, nem impedindo que outros o façam multiplicar!
Por fim, o patrão ordenou: “Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas, daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 25,28-29). Aquele que faz frutificar o talento, a graça do Reino de Deus, descobre que esse Reino é abundância, pois é amor que se multiplica; por isso, ‘recebe mais’, já que o amor nunca se esgota! Quem se fecha em si mesmo(a) e ao Reino de Deus esconde o Evangelho e não dá testemunho, pois não vive pelo Evangelho e pelo Reino. Este acaba perdendo o que tem, pois perde o fundamento da vida!
26 de novembro
Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo
Mt 25,31-46
Assentar-se-á em seu trono glorioso e separará uns dos outros.
Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os seus anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele” (Mt 25,31- -32a). Em um mundo marcado por jogos de poder entre os poderosos, em que ‘reinam’ a ganância, a corrupção, e a força daqueles que possuem poder econômico, político, entre outros, o Evangelho nos revela que, na perspectiva do alto, e do ‘fim dos tempos’ é o Cristo Senhor quem verdadeiramente reina em Seu ‘trono glorioso’. É diante d’Ele que todos serão conduzidos quando Ele ‘vier em Sua glória’, e é em face d’Ele que se realizará o julgamento definitivo. A História misteriosamente é conduzida a Deus, independentemente de povo, etnia, cultura ou religião.
O Senhor separará, então, uns dos outros, a Sua direita e a Sua esquerda. E em vista do que e a partir de qual critério Ele realizará Seu julgamento? “Vinde, benditos de Meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo” (Mt 25,34). O julgamento é em vista da ‘herança’ a ser recebida e que foi preparada desde a criação: a participação definitiva no Reino de Deus. Esse Reino, o próprio Jesus já nos trouxe. E qual é o critério para entrar no Reino? “Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede e me destes de beber […]” (Mt 25,35). Essa condição é a capacidade de ter compaixão e de realizar o bem a quem sofre! Isso foi o que o próprio Jesus fez e ensinou! E, mais que isso, por essa parábola, o Senhor que proclamamos Rei do Universo nos revela que, neste mundo, Ele reina, fazendo-se presente nos sofredores!
“Então os justos lhe perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?’” (Mt 25,37). “Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes’” (Mt 25,40). O Rei e Juiz, sentado no ‘trono da glória no fim dos tempos’, revela-nos que, neste mundo, tem como ‘trono’ os pobres, os pequenos, os doentes, os sofredores, os marginalizados! Quando fazemos um bem aos pequenos, nós o fazemos a Ele! Cristo Senhor identifica-se com aqueles que chama ‘dos menores de meus irmãos’ (cf. Mt 25,40).
É significativo que os justos não sabiam que, todas as vezes que fizeram algo aos sofredores, estavam fazendo a Cristo Jesus. Fizeram o bem, simplesmente porque isso é gratificante! Não estavam fazendo porque era ‘para Jesus’, ou ‘para ter alguma recompensa’; a recompensa do amor é o próprio ato de amar, pois esse sentimento vale por si, e Deus é amor!
Em Jesus Cristo, Deus fez-se ‘pequeno’ e foi ao encontro dos ‘pequenos, dos pecadores, dos sofredores’. É essa capacidade de amar que inaugura e traz presente o Reino de Deus! Quem é incapaz de amar assim está fora do Reino de Deus. O julgamento faz-se, portanto, não simplesmente no fim, mas se realiza neste mundo, e a medida e o critério do Juízo de Deus revelam-se na capacidade da compaixão, do amor.
Devemos celebrar Jesus Rei do Universo contemplando-o em Seu Trono, não com medo de Seu julgamento, mas maravilhados diante de um Rei-Juiz que se abaixa, identifica-se com os pobres e pecadores, manifesta a nós Seu Amor e nos convida a entrar em Seu Reino por meio dessa capacidade de ‘amar como Ele amou’. É por esse amor que o Senhor reina e é nesse amor que o Universo será reconduzido a Sua Presença, como Reino definitivo e eterno em Sua glória.
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