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Celebrando, neste ano, os 810 anos da vocação franciscana de Santa Clara, estamos oferecendo aos leitores mais uma reflexão homenageando a Santa que vivenciou com todo ardor o carisma franciscano.
Vivendo a fraternidade
Se a fraternidade é dom que se acolhe, é também uma tarefa a ser assumida, cuidada e preservada. Nosso trabalho é cultivá-la com as normas mais rudimentares da convivência: acolhida, aceitação do diferente, hospitalidade no sentido mais amplo. Sabemos todos, por experiência, que a construção da fraternidade não é fácil. Ela é lugar constante do exercício de conversão ao Evangelho. Espaço de cultivo da extirpação do egoísmo natural e do perdão. Implícito ou explícito. Não nos admiramos que, nesse contexto, Clara faça suas as exortações de Francisco. Quer que as irmãs se guardem de toda soberba, vanglória, inveja, avareza, cuidado e solicitude deste mundo, da detração e da murmuração, da dissenção e da divisão (cf. Regra de Santa Clara 10,6).
O depoimento de uma clarissa citado por Michel Hubaut afirma que “a vida fraterna concretiza nosso compromisso no coração da realidade, porque, dia após dia, é necessário que se encarne em nós o grande combate de Cristo, ou seja, o do amor contra todas as forças de morte. A mais banal das jornadas é toda feita de mil ocasiões para que se escolha o Evangelho, se opte pelo amor, pela justiça, pela paz; ocasião para transformar o mundo a partir da transformação de nós mesmos. Em tal caminho de conversão, minhas irmãs me revelam também o rosto de Deus: seu afeto me faz lembrar sua ternura; suas manifestações de coragem me falam da multidão de seus dons. O perdão, que elas dão, é sinal da misericórdia do Senhor. O dia a dia no mosteiro é aventura que a cada dia se renova, sempre juntas”.
Vivendo numa sociedade em que impera o egoísmo, temos que reconhecer os efeitos demolidores do individualismo que nos assedia de todos os lados. O amor de Clara pela fraternidade é tão atual quanto necessário. Trata-se de um espírito de família. As irmãs possuem o espírito de amoroso serviço, tentativa de converter o afã de dominação de uns sobre os outros pelo espírito de doação. Neste mundo de dessolidarização em que cada um cuida das suas próprias coisas, em que se reivindica a ambiguidade como estilo, em que o hedonismo é tido como valor no qual se quer o mínimo de coações e o máximo de escolhas particulares, o mínimo de austeridade e o máximo de desejo, Clara nos oferece a mensagem do amor em fraternidade, amor solidário voltado a toda pessoa para realizar o projeto de Deus Pai: uma forma solidária que viva relacionamentos de amor e que viva o amor na fraternidade.
A história de Clara, juntamente com a de Francisco, é um convite a meditar sobre o sentido da existência e a procurar em Deus o segredo da alegria verdadeira. É uma prova concreta de que quantos cumprem a vontade do Senhor e confiam n’Ele não só nada perdem, mas encontram o verdadeiro tesouro capaz de dar sentido a tudo
Missionárias no claustro
Simplesmente por sua vida, as monjas anunciam o absoluto de Deus às pessoas que perderam a sede do Infinito. As clarissas dizem que Ele existe, está perto e que a vida delas se passa diante de Seus olhos amorosos. No silêncio, na realização de coisas simples, no cuidado do perdão, na intercessão pelos membros vacilantes da Igreja, as clarissas são missionárias no claustro.
Clara e Francisco nos convidam a refletir sobre a vida e a existência. “Como não propor Clara, assim como Francisco, à atenção dos jovens de hoje? O tempo que nos separa da trajetória desses dois santos não diminuiu o fascínio por eles. Pelo contrário, é possível ver a sua atualidade no confronto com as ilusões e desilusões que marcam a hodierna condição juvenil. Nunca uma época fez sonhar tanto os jovens, com milhares de estímulos de uma vida em que tudo parece possível e lícito. E, no entanto, quanta insatisfação está presente! Por vezes, a busca de felicidade e de realização acaba por fazer empreender caminhos que levam a paraísos artificiais, como os da droga e da sensualidade desenfreada. Também a situação atual, com a dificuldade de encontrar um trabalho digno e de formar uma família unida e feliz, acrescenta nuvens no horizonte. Mas não faltam jovens que, também nos nossos dias, aceitam o convite de confiar-se a Cristo e a enfrentar com coragem, responsabilidade e esperança o caminho da vida, inclusive fazendo a escolha de deixar tudo para seguir no serviço total a ele e aos irmãos.
A história de Clara, juntamente com a de Francisco, é um convite a meditar sobre o sentido da existência e a procurar em Deus o segredo da alegria verdadeira. É uma prova concreta de que quantos cumprem a vontade do Senhor e confiam nele não só nada perdem, mas encontram o verdadeiro tesouro capaz de dar sentido a tudo (Bento XVI. Carta ao Bispo de Assis-Nocera Umbra-Gauldo Tadino por ocasião do Ano Clariano, 2012).
O historiador francês André Vauchez, em escrito que aborda o tema de Santa Clara e os movimentos religiosos de seu tempo faz as seguintes considerações finais:: “Clara não reivindicou para ela e para suas irmãs o direito de pregar ou de ensinar, mas desejava ardentemente viver em simbiose com os irmãos menores e recusava a ideia de ver a sua comunidade transformar-se em mosteiro de virgens reclusas e dotadas de rendas; se parece não ter tido dificuldade em aceitar a estabilidade e a clausura e à semelhança das reclusas que ao mesmo tempo se dedicavam à contemplação guardavam contato com o mundo, Clara sempre se recusou ceder no capítulo da pobreza, porque o fato de viver numa precariedade permanente constituía o ponto sobre o qual as sua fundação podia, diferenciando-se do monaquismo beneditino clássico, permanecer fiel ao espírito do Poverello e, através dele, com as aspirações dos movimentos leigos do século XII e começos do século XIII”.
Bom Dia! Santa Clara uma grande Mulher. 🙏💐🙏❤️