Observando as biografias de Santo Antônio de Lisboa e Pádua (1195-1231), percebemos um período interessante e histórico de seus atos em relação ao papa Gregório IX (1145-1241). Em 1230, os frades franciscanos haviam marcado um Capítulo Geral em Assis, na festa de Pentecostes, como era de costume. Frei Antônio (próximo dos quarenta anos e bem adoentado) participou dessa assembleia como ministro provincial da Província de Romanha, que abrangia o centro e o norte da Itália.
Na ocasião, o principal tema abordado foi a crise de dúvidas que pairava sobre a Ordem Franciscana. Destacam-se também vários debates sobre a Regra Bulada, publicada em 29 de novembro de 1223, sobre o valor do Testamento de São Francisco de Assis (1195-1231) para toda a Ordem. Naquele momento, quatro anos após a morte do Poverello, ela estava dando passos firmes de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, de progressiva institucionalização e organização diante dos desafios daqueles tempos: mobilidade ou estabilidade dos frades, manter-se na pobreza absoluta ou encaixar-se gradativamente na administração civil, continuar com os estudos ou fazer uma pausa, entre outros assuntos.
Em 16 de julho de 1228, a Assembleia Capitular elegeu seis representantes para irem a Roma, com o objetivo de resolverem as pendências. Além do ministro-geral, frei João Parenti, estavam frei Geraldo Rossignol, confessor do papa; frei Aimone de Faversham, futuro ministro-geral; frei Leão de Valvassori Perego, depois arcebispo de Milão; frei Geraldo de Modena; frei Pedro de Brescia, e frei Antônio de Bulhões, ministro provincial da Romanha.
Os frades atuaram com bastante empenho na Cúria Romana, tanto na apresentação das dúvidas quanto nas propostas de solução destas. Naquele momento, a contribuição de frei Antônio foi essencial; segundo seus confrades, ele era um “homem equilibrado, sábio, santo, estimado pelo Pai São Francisco”. O frade paduano teve um papel fundamental tanto para manter a fidelidade ao carisma franciscano quanto para se posicionar diante dos diferentes desafios nos ambientes em que os frades trabalhavam pastoralmente, sobretudo na pregação e na devida preparação da doutrina sagrada. Como conclusão desse trabalho, publicou-se a Bula Papal Quo Elongati1, em 28 de setembro de 1230.
Naquela época, o papa Gregório IX, que havia se tornado amigo dos frades, conheceu pessoalmente frei Antônio e, admirando sua santidade e sua cultura bíblica, convidou-o a fazer homilias e a ministrar palestras para ele próprio e todo o corpo cardinalício. A primeira biografia antoniana, Assidua, descreve o seguinte: “O Altíssimo concedeu a frei Antônio o dom de suscitar tal estima entre os veneráveis príncipes da Igreja que o Sumo Pontífice e a assembleia inteira dos cardeais escutaram com devoção ardentíssima seus sermões. Com efeito, frei Antônio, com esplêndida palavra, sabia retirar das Sagradas Escrituras significados tão originais e profundos que o próprio papa o denominou de ‘Arca do Testamento’”2.
Também é importante citar a Bula de Canonização de Santo Antônio (Cum dicat Dominus), publicada em 30 de maio de 1232 (Solenidade de Pentecostes), na Catedral de Espoleto, na Itália. O próprio papa Gregório IX apresentou-se desta forma como testemunha da santa vida de Antônio “[…] E, tendo nós próprios, um dia, apreciado a sua santidade de vida e as maravilhas do seu ministério, pois viveu edificantemente algum tempo conosco […]”3. In nomine Christi, amen.

Papa Leão IX, Vatican Media
Habemus Papam!
Nós, católicos (e poderíamos citar também pessoas do mundo inteiro, de diferentes crenças e etnias), vivemos os primeiros meses deste ano apreensivos e solidários com os problemas de saúde do querido papa Francisco (1936-2025). No início de abril, após pouco mais de um mês internado no Hospital Gemelli, em Roma, ele retornou ao Vaticano, onde viveu seus últimos dias terrenos (como sempre havia feito) em meio ao povo (essa interação foi possível graças aos meios de comunicação e às mídias digitais). Foi emocionante sua bênção Urbi et Orbi (‘À cidade [de Roma] e ao mundo’), concedida à multidão reunida na Praça de São Pedro, no Domingo de Páscoa4. No dia seguinte, 21 de abril, às 7h35 pelo horário local (às 2h35 pelo horário de Brasília), o papa Francisco deixava esta terra e unia-se para sempre a Deus. Mas a Igreja continua…
Em 7 de maio, na Capela Cistina (Vaticano), teve início o conclave para a escolha do novo papa. No dia 8, foi eleito o cardeal americano Robert Francis Prevost Martínez (1955-), agostiniano, que, a partir de agora, será conhecido como papa Leão XIV. Esperamos que, assim como seu antecessor, ele continue conduzindo o povo santo de Deus, sob a luz do Espírito Santo, pelos mesmos caminhos de paz e solidariedade, de sinodalidade e compaixão, de misericórdia e respeito pela natureza, nossa casa comum!
Notas
1 Disponível em: https://mercaba.org/FICHAS/Franciscanos_net/bulas%20del%20siglo%20xiii.htm. Acesso em: maio 2025.
2 GAMBOSO, Vergilio. Vita prima di S. Antonio o “Assidua” (C. 1232). Padova: Edizioni Messaggero, 1995. p. 323-325. (Fonti Agiografiche Antoniane, v. 1).
3 Disponível em: https://apostolado
santoantoniodepadua.blogspot.com/2022/04/bula-da-canonizacao.html. Acesso em: maio 2025.
4 Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/urbi/documents/20250420-urbi-et-orbi-pasqua.html. Acesso em: maio 2025.
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