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2 de julho
São Pedro e São Paulo
Mt 16,13-19
Tu és Pedro e eu te darei as chaves do Reino dos Céus.
Jesus pergunta a Seus discípulos o que as pessoas pensam sobre Ele: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13). Depois de apresentarem várias opiniões sobre quem era Jesus, o Mestre pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Existem sobre Ele muitas opiniões; certamente é a pessoa sobre quem mais se escreveu e se escreve livros no mundo! Mas também a pergunta que Jesus fez aos discípulos cabe a nós: ‘Quem é Jesus para mim?’
Pedro vai responder: “Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo” (Mt 16,16). Jesus diz a ele que essa resposta é uma revelação do ‘alto’, uma revelação ‘do Pai’. Nesta verdade expressa por Pedro está o centro de nossa fé: Jesus é Messias, o Filho de Deus; e, dessa forma, Ele nos revela a vontade do Pai! O próprio Pedro, em outra ocasião, vai dizer: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!” (Jo 6,68). Reconhecer Jesus como Messias, como Filho de Deus e Senhor, significa reconhecer que Suas palavras são palavras de Vida Eterna, e, portanto, devem conduzir nossa vida, pois nelas encontramos horizontes de eternidade e salvação!
Jesus então diz a Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18). Diante da profissão de fé de Pedro, Jesus confirma seu novo nome: Pedro, que significa justamente ‘pedra’; então sobre Pedro, enquanto professa a fé em Jesus como Filho de Deus, a Igreja é construída! Pedro torna-se sinal visível (pedra) de unidade na fé em Cristo.
Também nós, quando professamos a fé em Jesus como Filho de Deus, tal como Pedro, nos tornamos ‘pedras vivas’ que formam o ‘edifício espiritual’ que é a Igreja (cf. 1Pd 2,5). Unidos à pedra angular que é o próprio Jesus, e à pedra sobre a qual Ele edifica Sua Igreja (Pedro e seus sucessores), formamos o edifício espiritual que é a Igreja, que, firmada na fé de Pedro, tem a garantia de que, contra ela, “as portas do inferno não prevalecerão” (Mt 16,18)!
Paulo (quando ainda se chamava Saulo) perseguia os cristãos e a Igreja; no entanto, foi tocado pelo Cristo; ao converter-se, tornou-se um grande apóstolo e evangelizador! Naquilo que o Senhor realiza em sua vida, podemos contemplar que de fato as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja. Paulo passa a também fazer parte como pedra viva desse edifício espiritual que é a Igreja, Corpo de Cristo. Nesse edifício espiritual, cada um pode colocar a serviço seus dons particulares, para auxiliar na edificação da comunidade de fé como instrumentos do Senhor.
Em Pedro e Paulo, colunas da Igreja, celebramos o modo como o Senhor edificou a Sua Igreja por meio dos Apóstolos, e quer continuar edificando-a por meio de cada um de nós, na medida em que confessamos a fé no Cristo e vivemos sua palavra tornando-nos pedras vivas neste edifício espiritual que o Senhor vai edificando em nós, e por meio de nós. Que a vida de Pedro e Paulo nos inspire!
9 de julho
14º Domingo do Tempo Comum
Mt 11,25-30
Eu sou manso e humilde de coração.
Jesus, em certo momento, assim se dirige ao Pai: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25). Ele constata que ‘os pequeninos’ estavam mais abertos a escutar e acolher Sua Palavra do que ‘os sábios e entendidos’, como os doutores da Lei e os escribas. Não se trata de afirmar que pessoas ‘estudadas’ são desprezadas e pessoas ‘sem estudos’ são exaltadas, mas sim de se estar sempre receptivo a aprender, cultivando a humildade e a simplicidade, independentemente do grau de instrução. Jesus chama a atenção para as pessoas que estão ‘cheias de si’, ‘cheias de verdades e de razão’ sem se abrirem ao outro e, sobretudo, a Deus. Diante d’Ele, somos todos pequenos! Ilusão é querer ‘ser grande, dono da razão e da verdade’!
“Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27). Jesus é o Filho de Deus e conhece o Pai, revelando-nos quem é o Pai a partir de Suas palavras e ações. E revela-nos o Pai fazendo-se Ele mesmo ‘pequeno’, abaixando-se para vir a nós! Deus faz-se pequeno! Por isso, também nós, para conhecer a Deus, devemos reconhecer nossa pequenez estando abertos para acolher a Palavra e o ensinamento de Jesus que nos revela o Pai.
Então Jesus continua: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso de vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Vivemos em uma ‘sociedade do cansaço’. Cheios de tarefas, informações, preocupações a todo tempo, uma sociedade ‘acelerada’. Há um cansaço que não é só físico, mas existencial e espiritual. No cansaço, tudo fica mais pesado. Por vezes coisas até aparentemente pequenas se tornam um ‘peso grande’ pois se somam a tantas outras coisas.
Diante dos fardos da vida que, por vezes, pesam sobre nós, e daqueles que nós colocamos sobre nós mesmos, em Jesus, encontramos ‘descanso’, pois n’Ele encontramos salvação, sentido para nossa vida, consolo e força. “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso” (Mt 11,29). Esse ‘descanso’ é encontrado no coração manso e humilde de Jesus, na medida em que também permitimos que nosso coração se torne manso e humilde.
Quando a encaramos com essa mansidão e humildade, a vida torna-se mais leve, mais simples. Muitas vezes, nós mesmos ‘complicamos nossa existência’ e criamos mais ‘peso’ uns para os outros por meio de nossos pecados! “O meu jugo é suave”, diz Jesus (Mt 11,30a). Ele olha para nós, com a ‘leveza do amor’, do perdão e da misericórdia que redime a vida e a torna mais leve, mais cheia de sentido! É com esse jugo de Jesus que devemos viver e olhar a vida em nós e no outro! Com a ‘pequenez’ de quem não se impõe, de quem sabe ser simples, agir com mansidão e humildade. Eis o jugo de Jesus sobre nós, e que torna a vida mais leve no amor!
16 de julho
15º Domingo do Tempo Comum
Mt 13,1-23
O semeador saiu para semear.
Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do Mar da Galileia” (Mt 13,1). Alguma vez, paramos para meditar sobre esse versículo do Evangelho segundo São Mateus? Jesus saiu de casa e foi simplesmente sentar-se à beira do Mar da Galileia! O que será que foi fazer lá? Talvez nada, simplesmente olhar e contemplar a paisagem! Quantas vezes, paramos para nos sentar e olhar o nascer ou o pôr do sol, ou simplesmente ficamos diante de alguma paisagem sem nenhum interesse a não ser de ‘estar’, e aí experimentar a presença de Deus no ‘ser’ de cada coisa que nos envolve!
Ao verem Jesus simplesmente sentado à beira do Mar da Galileia, pessoas começaram a reunir-se em torno d’Ele. Talvez tenha começado com poucos, em uma singela conversa. Outros foram se aproximando, querendo ouvi-Lo, e o modo como, na simplicidade, Ele falava por parábolas e tornava presente o Reino de Deus: “O semeador saiu para semear” (Mt 13,3a). Ele mesmo é o semeador, e Sua Palavra são as sementes desse Reino; e lança essas sementes nos caminhos da vida daqueles que encontra, onde quer que estejam, tal como aqueles que ali estavam à beira do Mar da Galileia! As sementes são lançadas, sem distinção de pessoas; mas caem em diferentes tipos de terreno, por isso nem todas dão frutos. Como acolhemos as sementes de Sua Palavra?
O próprio Jesus explicará a parábola que contou. Quando Sua Palavra não toca o coração, o maligno rouba o que foi semeado, tal como as sementes que caíram à beira do caminho e foram devoradas por pássaros, e assim não frutificaram. Não basta entender a Palavra com o ‘intelecto’. É preciso “compreender com o coração” (Mt 13,15), com todo o ser. A Palavra de Deus não é tão somente uma doutrina, mas é ‘vida’. Não se pode ter o coração fechado; quem fecha o coração ou vive com ele fechado perde a Palavra que dá sentido à vida, e assim perde a ‘graça’ de viver.
Há aqueles que recebem a Palavra com entusiasmo, mas, quando vêm as dificuldades, afastam-se. São como quando sementes caem em solo pedregoso: nascem, mas logo secam, pois as raízes são fracas. A fé não pode frutificar na superficialidade, e a própria vida não pode ser vivida na superficialidade. Esse é um grande risco de nosso tempo marcado por muitíssimas informações, palavras, e relações superficiais, sem profundidade.
Outros acolhem a Palavra de Deus, mas criam ilusões: acham que ela serve tão somente para lhes fazer prosperar! Diante das dificuldades e das tribulações, (os espinhos da vida), deixam sufocá-la e, assim, ela não há frutos. Quantos, diante de tribulações, desistem, dizendo: “Não adianta rezar, pois não consigo o que quero!” Colocam seus desejos e interesses acima de Deus, sufocando a Palavra!
Mas há sementes que caíram em terra boa: aqueles que ouvem a Palavra e a compreendem (com o coração)! Eles a põem em prática e então produzem frutos que se multiplicam. Tais sementes são lançadas no caminho de nossas vidas, e devem dar frutos nessa trajetória, para que se multipliquem tal como Jesus faz multiplicar o bem por Suas ações e palavras, mesmo quando somente se senta à beira do mar… A partir das pequenas coisas, do dia a dia e dos momentos simples de nossa vida, devemos fazer frutificar as sementes do Reino de Deus.
23 de julho
16º Domingo do Tempo Comum
Mt 13,24-43
Deixai crescer um e outro até a colheita.
A missão de Jesus consistia em pregar a conversão e a proximidade do Reino de Deus. Mas, diante desse anúncio da chegada do Reino, muito facilmente a imaginação humana poderia pensar em ‘coisas grandiosas’, um ‘reino’ construído segundo os critérios deste mundo. Jesus vai ensinando Seus discípulos sobre o mistério desse Reino, com Sua vida e Suas ações, e com Sua pregação, falando sobre o Reino, sobretudo por meio de parábolas.
Com a chegada do Reino anunciado por Jesus, aqueles que se colocam contrários a Seus ensinamentos devem ser eliminados? Se o Reino de Deus nos vem pela boa semente semeada por Jesus, por que há o mal e aqueles que fazem o mal? Não seria bom eliminá-los? Essa é a lógica humana. Por vezes, há a tendência humana de considerar que aqueles que não fazem parte de nosso grupo, nem pensam como nós não são tão bons, devendo ser, de alguma forma, excluídos, eliminados. Vivenciamos, em nosso país, um tempo de polarização, e quantos não consideraram aqueles que votaram diferente de nós como pertencendo a um grupo rival? Até mesmo no seio da Igreja é possível notar essa divisão!
Com a boa semente do trigo, há o joio plantado por ‘algum inimigo’. Há o mistério da iniquidade semeado com o bom trigo. Mas, diante da tentação de querer eliminar por si mesmo o joio, diz Jesus: “Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo” (Mt 13,29). Não cabe a nós querermos eliminar o joio, pois não sabemos de que forma o trigo e o joio estão misturados! Também precisamos considerar que ‘trigo e joio’ existem dentro de nós mesmos!
O Reino de Deus apresentado por Jesus se manifesta a partir da pequenez, tal como uma semente, como a do grão de mostarda. A partir das pequenas coisas, esse Reino vai-se manifestando, dando frutos, crescendo. O Reino de Deus não se estabelece a partir da lógica deste mundo, a lógica do poder, da força, da grandeza… Ele se estabelece, principalmente, a partir do amor, da partilha, da generosidade, da misericórdia do perdão, entre outros exemplos. Quantas obras de caridade, de bondade, espalharam-se no mundo, seja por congregações religiosas, seja por pastorais e movimentos da Igreja, seja pela influência dos valores do Evangelho em nossa sociedade, seja por atos generosos de pessoas desconhecidas, no dia a dia da vida…
É verdade que também há o joio que se manifesta nas injustiças, na corrupção, na violência, nas guerras, no preconceito… Mas o cristão age no mundo não querendo arrancar o joio pelas próprias forças, mas sim desejando fazer dar frutos a boa semente do trigo! Deus semeia em todos os lugares e corações, assim como o joio também se espalha misteriosamente em todo lugar. Há trigo e joio em nós e no outro. Não podemos nos deixar seduzir pelo orgulho de nos acharmos ‘trigo’ julgando os outros como ‘joio’ seja pela questão religiosa, seja pela questão política, seja pela questão cultural… Antes, devemos abrir nosso coração à boa semente da Palavra de Deus, ao ‘trigo’ do pão eucarístico, para que, em nossa vida, o fruto dessa boa semente prevaleça e se multiplique, mesmo diante do joio do inimigo, semeado entre o trigo que há em nós e no outro.
30 de julho
17º Domingo do Tempo Comum
Mt 13,44-52
Ele vende todos os seus bens e compra aquele campo.
O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” (Mt 13,44). Ele é como um tesouro oculto. Não se deixa ver tão facilmente na mídia, nas redes sociais e na lógica deste mundo. O Reino de Deus é oculto tanto quanto o sentido mais profundo da vida! Para além das coisas cotidianas óbvias e práticas, e que fazem parte da vida, há um desejo profundo e oculto no coração da humanidade: desejo de Deus, de eternidade de amor pleno… Onde buscamos esse tesouro? Ele não está naquilo que aparece tão claramente nas propostas de consumo do mercado; ou nas imagens de alegrias fáceis da internet. “Só o que faz o homem bom pode fazê-lo feliz”, dizia Santo Agostinho de Hipona (354-430). E, como nos lembra São Francisco de Assis (1182-1226), só “Deus é o Bem, o Sumo Bem, só Ele é bom”; n’Ele, revelado a nós em Jesus Cristo, encontramos a bondade, a beleza, a revelação do tesouro grandioso do sentido da vida.
“O Reino dos Céus é também como um comprador que procura pérolas preciosas” (Mt 13,45). Aquele que procura e busca a pérola preciosa do Reino, de alguma forma, já está inserido nesse mistério! De fato, a vida é uma procura constante de amor, de felicidade, de alegria, de eternidade! Na dinâmica de Deus, buscá-Lo é de alguma forma já ter encontrado, pois só pode buscá-lo quem, de algum modo, deixou-se tocar por Seu mistério, quem percebeu e intuiu que existe, para além de tudo o que nos cerca (de todas as propostas de ‘felicidade’ que se vendem neste mundo), uma pérola preciosa que dá sentido a vida: o Reino dos Céus, Deus que é Amor revelado em Jesus.
Quem encontra o campo com o tesouro, ou a ‘pérola preciosa’, ‘vende seus bens’ para adquirir esse tesouro; ou seja, passa a viver não a partir de seus bens, mas a partir desse tesouro do ‘Reino dos Céus”, a partir do amor de Deus! A ação de ‘vender tudo’ para comprar o ‘campo com o tesouro’ ou ‘a pérola preciosa’ provoca-nos as seguintes reflexões: quanto vale a nossa vida? Em que a estamos gastando? Nós a gastamos por um grande tesouro? Jesus deu a vida pela humanidade: significa que Ele reconhece em nós algum tesouro! Ele não nos cobra nada, mas somos capazes de reconhecer a grandeza do tesouro de Seu amor por nós?
Além disso, Jesus afirma a Seus discípulos que o “Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo” (Mt 13,47). O Reino dos Céus está aberto a todos, tal como uma rede pode pescar peixes de todo tipo, ‘bons e maus’; assim, a Igreja deve estar sempre em atitude de acolhida, e de portas abertas! Por isso, também ela se chama ‘católica’, ou seja, ‘universal’: a universalidade da Igreja expressa justamente que deve estar aberta para acolher a todos. Não cabe àqueles que estão na rede julgar e eliminar os peixes que consideram maus.
Somente “no fim dos tempos: os anjos virão para separar os maus dos justos” (Mt 13,49). Com esse ensinamento, Jesus não quer nos incutir medo quanto ao ‘fim dos tempos’. Seu objetivo é ensinar que não devemos, nós mesmos, querer julgar e eliminar aqueles que consideramos ‘maus’. Devemos, antes de tudo, desejar adentrar na rede do Reino dos Céus, nosso tesouro, e, com paciência, confiar no Senhor.
6 de agosto
Festa da Transfiguração do Senhor
Mt 17,1-9
O seu rosto brilhou como o sol.
Conforme o Evangelho Segundo São Mateus, Jesus comenta com Seus discípulos que “era necessário que fosse a Jerusalém e sofresse muito por parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos escribas, e que fosse morto e ressuscitasse ao terceiro dia” (Mt 16,21). Após esse anúncio, Jesus também diz: “Em verdade vos digo que alguns dos que aqui estão não provarão a morte até que vejam o Filho do Homem vindo com seu Reino” (Mt 16,28). Segundo São Mateus, seis dias depois, “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o Sol e suas roupas ficaram brancas como a luz” (Mt 17,1-2).
Jesus estava a caminho de Jerusalém, quando levou três de Seus discípulos a ‘uma alta montanha’, que a Tradição identificou como o Monte Tabor. O monte representa, na Escritura, um lugar para se encontrar com Deus. Nesse lugar, Jesus foi transfigurado e Seu rosto e Suas vestes brilharam como sol. Ele já havia falado desse ‘brilho de luz’ que resplandece nos ’“justos que brilharão como o Sol no Reino do Pai” (Mt 13,43). Jesus transfigurado revela aos discípulos a luz da glória definitiva do Reino do Pai, como se permitisse aos discípulos contemplar por um instante a glória do céu resplandecente n’Ele mesmo! Também aparecem junto a Jesus, Moisés e Elias, que representam a Lei e os profetas, como que para acenar que todo Antigo Testamento conduz a Jesus!
Diante de tal visão, Pedro diz: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e Elias” (Mt 17,4). Na referência que faz às ‘tendas’ talvez Pedro compreenda aquele momento como manifestação do ‘fim dos tempos’, manifestação do Reino definitivo que o Messias inaugura, e do qual Jesus havia anunciado (cf. Mt 16,28).
Enquanto Pedro falava, “uma nuvem os cobriu com sua sombra. E, da nuvem, uma voz dizia: ‘Este é o meu Filho Amado, no qual eu pus o meu agrado. Escutai-o!’” (Mt 17,5). A ‘nuvem luminosa’ representa a glória e a presença de Deus, que, no entanto, como ‘nuvem’ se faz presente de forma ‘oculta’. Ouve-se então a voz do Pai que confirma a identidade de Jesus: Ele é o ‘Filho Amado’, ao qual devemos escutar! Os discípulos então ‘caíram com o rosto em terra’ diante da manifestação divina em Jesus. Trata-se da atitude de ‘temor e tremor’ diante do Sagrado! O ser humano reconhece-se pequeno e indigno diante da grandeza da glória do Senhor! Mas então “Jesus se aproximou, tocou neles e disse: ‘Levantai-vos, e não tenhais medo’” (Mt 17, 7b).
Em Jesus, compreendemos que Deus, grandioso em Sua glória, se abaixa para vir a nós. Quando ergueram os olhos, os discípulos “não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus” (Mt 17,8), em quem a glória de Deus se oculta em Sua humanidade! Assim o Senhor se aproxima, toca e nos levanta em nossa dignidade, exortando-nos: não tenhais medo, pois de Deus não devemos ter medo! Devemos ter medo de ficarmos distantes de Sua glória, ficarmos distantes de Seu amor! Podemos então seguir nosso caminho com Jesus sem medo, pois esse caminho nos conduz à glória definitiva, que no alto daquele monte Ele nos revelou.
13 de agosto
19º Domingo do Tempo Comum
Mt 14,22-33
Manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.
Depois da multiplicação dos pães, Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à Sua frente, para o outro lado do mar” (Mt 14,22). A barca pode representar a Igreja. Jesus convida-os a entrar na barca, enviando-a a outras margens! A Igreja deve ‘ir adiante’, à frente, e ser capaz de avançar para outros lugares. O cristão não pode acomodar-se. Deve estar sempre disposto a seguir em frente no amor, na capacidade de perdoar, na criatividade de anunciar o Evangelho.
Jesus enviou os discípulos na barca e subiu ao monte para orar. A noite chegou, Ele ficou sozinho no monte. A barca distanciou-se da terra e começou a ser “agitada pelas ondas, pois o vento era contrário” (Mt 14,24). Quantas vezes a Igreja e cada um de nós sentimos as contrariedades da vida: incompreensões, dificuldades, desafios! De madrugada, Jesus foi até os discípulos, “andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: ‘É um fantasma!’ E gritaram de medo” (Mt 14,25).
Jesus caminha sobre o mar em direção a Seus discípulos. O mar representa o poder das forças do mal. Esse gesto de caminhar sobre mar é sinal de Sua vitória sobre o mal; Ele está acima do mal! Jesus aproxima-se dos discípulos na barca, e eles sofrem com as ondas agitadas e ventos contrários. O medo deles faz que pensem que Jesus é um fantasma. O medo pode criar muitos ‘fantasmas’ e nos fazer ver a realidade de forma distorcida; também pode trazer a tentação de nos fazer ‘paralisar’ e desistir.
Diante do temor dos discípulos, Jesus não lança uma palavra de juízo ou condenação. Ele diz: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27b). Jesus vai ao encontro dos discípulos por sobre o mar, para manifestar Sua vitória sobre as forças do mal e comunicar aos discípulos palavras de coragem! “Pedro então diz: ‘Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água’. E Jesus respondeu: ‘Vem!’ Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus” (Mt 14,28-29). A confiança em Sua palavra permite-nos ir em Sua direção, sobre o mar e sobre as forças do mal. Mas Pedro, ao sentir o vento, ficou com medo, e começou a afundar. Novamente o medo!
Mesmo tendo visto Jesus caminhar sobre as águas e dado alguns passos por sobre o mar, diante do vento, Pedro teve medo. Então, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” (Mt 14,30). Quantas vezes ouvimos a Palavra, experimentamos graças e, mesmo assim, nas dificuldades, duvidamos! Jesus estende a mão e segura Pedro, e só então diz: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?” (Mt 14,31b).
Primeiramente, Jesus mostra-se o Salvador, estendendo a mão a Pedro, mas também nos questiona em nossos medos! Mesmo duvidando, e tendo medo, Pedro ainda gritou: ‘Salva-me!’ Há ainda alguma confiança n’Ele. Mas essa confiança deve nos permite avançar, caminhar! A fé em Jesus não pode nos acomodar, nem as dúvidas e os medos nos paralisar. Assim que subiram no barco, o vento acalmou-se. O barco, sinal da Igreja, é o lugar onde devemos permanecer diante das tempestades. Mas quantas pessoas, nas dificuldades, acabam se afastando da comunidade! É no barco que os discípulos reconheceram: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus” (Mt 14,33b). A presença do Senhor, no seio da comunidade, torna possível vencer as tempestades.
20 de agosto
Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
Lc 1,39-56
O Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor: elevou os humildes.
A Igreja crê que a Virgem Maria, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu. Tal como ao longo de sua existência, ela esteve associada em tudo à vida de seu Filho Jesus Cristo, também no fim da vida, da mesma forma que o corpo de Jesus (que morreu na cruz e não padeceu a corrupção no sepulcro), o corpo da Virgem Maria, que nos trouxe o Salvador, também não conheceu a corrupção, mas foi elevado ao céu! A Igreja contempla no sinal que João vê no céu, a “Mulher vestida de Sol” (Ap 12), a própria Virgem Maria, revestida da glória, representando toda a Igreja, chamada a participar desta glória no céu.
Portanto, a Igreja, ao celebrar a Assunção da Virgem Maria, celebra e contempla sua vitória realizada naquela que São Francisco de Assis diz ser “A Virgem feita Igreja”, pois Maria representa a Igreja. Nela, contemplamos aquilo que a Igreja é chamada a ser e a viver: estar associada à vida de Jesus em tudo, tal como Maria esteve: do nascimento à cruz e ressurreição, na abertura ao Espírito Santo para participar com o Senhor na glória do céu.
Movida pelo Espírito, Maria vai à casa de sua prima Isabel, que havia engravidado na velhice. Ao chegar ao local, a saudação de Maria faz que Isabel fique “repleta do Espírito Santo” (Lc 1,41); nesse momento, até João Batista pula de alegria em seu ventre diante da presença de Maria, que traz a presença do Senhor!
A Igreja deve ser também canal do Espírito Santo, tal como Maria. Isabel então exclama: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,42). Essa saudação é muito similar à exclamação de Davi diante da Arca da Aliança (que representava a presença de Deus no meio do povo), que foi à sua casa: “Como, disse ele, faria eu entrar a arca de Deus em minha casa?” (1Cr 13,12). Davi saltou de alegria diante da Arca (cf. 2Sm 6,16), mas se sentia indigno de recebê-la em sua casa; ela, então, vai à casa de Obed-Edom, onde fica por três meses. Maria, como Arca da Nova Aliança (pois traz a presença do Senhor entre nós), permanece na casa da prima exatamente três meses! Ela de fato é a Arca da Nova Aliança.
Diante das palavras de Isabel, Maria exclama: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador […]. Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor” (Lc 1,46-50). O Senhor realizou grandes coisas em Maria! Por isso, a Igreja não teme celebrar a Virgem Santíssima, cumprindo a Escritura: “[…] me chamarão bem-aventurada” (Lc 1,48b), pois sabe que, ao celebrar a Virgem Maria, no fundo, celebra aquilo que Deus nela realizou!
Entre tantas coisas que o Senhor realizou em Maria, ela mesma diz: “Elevou os humildes” (Lc 1,52). Celebrar a Assunção de Nossa Senhora é confirmar essa verdade da Escritura! Maria reconhece sua pequenez e o Senhor olhou para sua humildade! Como é bela a humildade que atrai o olhar do Senhor! Ele ‘eleva os humildes’. Esse é o caminho que a Igreja é chamada a seguir para adentrar na glória do Senhor, da qual a Virgem Santíssima já participa no céu, como a “Mulher vestida de Sol” (Ap 12), como a Arca da Aliança que trouxe o Senhor a este mundo e que agora também está no céu: “O Templo de Deus que está no céu se abriu, e apareceu no Templo a arca de sua Aliança” (Ap 11,19).
27 de agosto
21º Domingo do Tempo Comum
Mt 16,13-20
Tu és Pedro, e eu te darei as chaves do Reino dos Céus.
Jesus e Seus discípulos foram à região de Cesareia de Felipe, um lugar distante da Judeia e marcado pela presença de pagãos. Ali Jesus pergunta a Seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13); então, eles respondem: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda que é Jeremias ou algum dos profetas” (Mt 16,15). Diziam-se (e ainda dizem) muitas coisas sobre Jesus. Mas então Ele pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15).
Jesus faz esse questionamento distante da Judeia, um lugar marcado pela presença de pagãos, talvez para assinalar que Sua identidade não está associada somente ao Reino de Israel e Seus interesses e expectativas em torno tão somente à nação de Israel. Sua identidade não pode estar atrelada somente a figuras como de João Batista, Elias ou Jeremias. Ela vai além de uma identificação exclusiva com Israel, tal como a identidade cristã é marcada por não se definir em questões geográficas ou culturais! Então, para além de nossos interesses pessoais, culturais e políticos, ousamos perguntar: ‘Quem é Jesus para nós?’
Simão Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Dessa forma, expressa-se que a messianidade de Jesus não está associada a nenhuma ideologia político-religiosa, nem a nenhum interesse pessoal. Ele é o Filho do Deus vivo! Jesus então completa: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas meu Pai que está no céu” (Mt 16,17). Sua identidade não se reduz, nem se compreende a partir de interesses tão somente humanos, mas é revelação do Pai, pois o Filho veio para realizar e nos revelar a vontade do Pai, que é a nossa salvação. Por isso, Jesus diz: “Feliz és tu, Simão […]”, já que é nessa verdade do alto que está o fundamento da vida humana, fonte de verdadeira alegria e salvação!
Jesus continua dizendo a Simão: “Por isso eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,18). Ao professar a fé em Jesus como o Filho do Deus vivo, Simão torna-se, de fato, ‘Pedro’, torna-se ‘pedra’, pois nessa fé está a ‘rocha’ da salvação, aquilo que confere solidez à vida. Enquanto professa a fé em Jesus, Simão torna-se a pedra na qual se constrói a Igreja que está fundada em Jesus, o Filho do Deus vivo. Pedro torna-se sinal visível da edificação da Igreja, que deve estar construída e unida nessa mesma fé.
“Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus;
tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). Jesus confia o Reino dos Céus à Igreja representada em Pedro. Essa Igreja pode ‘ligar e desligar’ na Terra tudo o que será ‘ligado e desligado’ no céu. Com isso o Evangelho nos mostra que o Reino dos Céus não é ‘algo pronto que se impõe do céu a nós’. Jesus dá liberdade à Igreja de ‘decidir’, de estabelecer-se neste mundo ‘ligando e desligando’ aquilo que julgar necessário, a fim de que o Reino possa se fazer presente entre nós. A Igreja é e deve ser ‘Sacramento’, ‘sinal’ do Reino dos Céus, e cada cristão, confessando a fé em Jesus, deve se tornar uma ‘pedra viva’ (cf. 1Pd 2,5) na edificação desse Reino. Assim, unidos ao sucessor de Pedro, na liberdade dos filhos e filhas de Deus como comunidade de fé, Igreja do Senhor, sejamos um sinal do Reino no mundo.
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